Filhos, e porque não tê-los

Acho que dentre os sonhos de quase todas as “pessoas biologicamente maduras” (refiro-me àquelas com capacidade de cuidarem de si mesmas e talvez de outras) está a vontade de ser pai ou mãe.

Talvez se trate de uma percepção completamente errada de minha mente viajada, mas acho que há uma certa hiprocrisia quanto a ter filhos cedo. Pare pra pensar: Cada vez mais divórcios, discordância e violência. Todos os dias vemos assassinatos e poluição. E sempre tem menos amor que ontem.

Daí a ter um filho completamente desplanejado, inesperado e sem condições financeiras mínimas para dar um  bom conforto para aquela pobre criança que virá à este mundo desvirtuado em que vivemos, é um ato insanamente hipócrito.

Claro que acidentes acontecem, e quase sempre são bem vindos. Não trataremos deles nesse texto. Nem daqueles indesejados, porque já entraríamos no assunto aborto, que por sinal é tema para outro post.

gravida

Eu confesso que nunca quis ter filhos. Nunca tive vontade de “sentir as dores do parto e cumprir meu papel de mulher”, tive a plena convicção de que não teria filhos por diversas razões. Dentre elas, algumas principais que seguem:

Medo de ser uma péssima mãe. Sempre tive jeito com crianças. Mas as dos outros. Do tipo que se devolve quando começa a encher muito o saco. Aliás, como eu poderia estar presente nos momentos importantes do meu filho com meus objetivos de carreira, que envolvem muito estudo e trabalho? Até que ponto ter um filho e deixar para outras pessoas a responsabilidade de cuidar dele?

Perder minha liberdade. Viajar quando der na telha, tomar uma cervejinha com os amigos sem hora para voltar ter meus momentos sozinha ficaria fora de cogitação. Acho que no fundo, medo da responsabilidade (que talvez seja a maior na vida de qualquer pessoa).

O mundo está uma merda, convenhamos. É para esse mundo que eu quero trazer uma criança? Um mundo onde educação é uma carteira de investimento oferecida por qualquer banco por aí? Onde política e honestidade não andam juntas? Onde a pressão do mercado de trabalho começa antes do que deveria? Onde amor e compaixão deram lugar ao dinheiro? Aqui, onde se ele não fizer parte dos mais fortes, pode acabar fazendo malabarismo no semáforo?

A infância não é mais a mesma. Eu (que só tenho 22 anos) cresci brincando na rua, rolava no chão por causa de futebol, pega-pega e esconde-esconde. Fazia amizades de carne e osso.
Hoje, meus primos mais novos são craques em video games. E suas relações de amizade quase sempre vem de Orkut, Msn, Twitter, Facebook…E a amarelinha? Se perdeu onde? Brincar é somente divertido quando na Internet? Como assim? o.O

crianca

Por fim, não gostaria de ver no rosto do meus filhos sinais do ceticismo aos sentimentos mais bonitos da humanidade. Não quero que ele tenha um precoce desdém a relacionamentos amorosos, uma precoce falta de fé na humanidade…

Não sei. Tudo isso me assombra, e muito.

E antes que me perguntem: Sim, eu terei filhos. E não será por obrigação.

Todos os itens acima não desaparecerão do meu caderninho mental de preocupações, mas eu sei que ao lado de quem se ama, podemos fazer nosso melhor para evitar que eles nos assombrem. Eu sei que seremos ótimos pais. Daqui alguns anos, é claro. (Né @rbarato? 😉 )

Agora SaiDaqui! e vai trabalhar…

"Não mamãe, eu não quero sair daqui!"

"Não mamãe, eu não quero sair daqui!"

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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14 comentários

  1. Eu me identifiquei muito com esse post, tu não faz idéia. Parabéns por botar uma opinião pouco ortodoxa no mundo sem fazer sensacionalismo.

  2. “O mundo está uma merda, convenhamos. É para esse mundo que eu quero trazer uma criança? Um mundo onde educação é uma carteira de investimento oferecida por qualquer banco por aí? Onde política e honestidade não andam juntas? Onde a pressão do mercado de trabalho começa antes do que deveria? Onde amor e compaixão deram lugar ao dinheiro? Aqui, onde se ele não fizer parte dos mais fortes, pode acabar fazendo malabarismo no semáforo?

    A infância não é mais a mesma. Eu (que só tenho 22 anos) cresci brincando na rua, rolava no chão por causa de futebol, pega-pega e esconde-esconde. Fazia amizades de carne e osso.
    Hoje, meus primos mais novos são craques em video games. E suas relações de amizade quase sempre vem de Orkut, Msn, Twitter, Facebook…E a amarelinha? Se perdeu onde? Brincar é somente divertido quando na Internet? Como assim? o.O”


    é exatamente isso que eu penso!

    Penso que nao quero colocar uma pessoa num mundo tão de cabeça pra baixo. E é seguindo esse raciocínio que penso que um dia poderei adotar um.

    Já que a criança já existe, e precisa de amor… pq nao?
    Acho válido.

  3. Concordo. Também já pensei várias vezes em adotar. Ótimo tema para um próximo post não acha? 😉

  4. Minha opinião sobre isso é simples, prática, direta e indolor: ter filhos hoje em dia é praticamente um ato egoísta. Já pararam pra ver quantas crianças estão abandonadas pelo mundo e adorariam ter uma família??? As pessoas, até mesmo antes de dar uma trepadinha casual, devem pensar mil vezes, porque gravidez acontece todo dia. Filhos planejados ou não planejados… não, hoje em dia não. Adotem. O mundo seria bem melhor. É um ato de amor tão genuíno…

  5. Amanda, tenho acompanhado seus posts há algum tempo, mas só agora resolvi comentar. Seus textos são sensacionais e vc ganhou mais uma fã nesse mundo virtual! rs
    Sobre o post d hoje, concordo com você. O mundo tá de cabeça pra baixo…ter um filho nas condições em que vivemos seria pura loucura…Mas assim como vc, eu também pretendo ter filhos. Sempre pensei em adotar uma criança. Acho que um ato desses é totalmente válido e bem-vindo quando amamos e queremos dar amor.
    Beeijo!

  6. Aaah, também aprovo a idéia do próximo post…adoção! beeijo

  7. Opa, obrigada pelos elogios galera! ^^ É isso que faz valer o trabalho de ter um blog 😉

  8. Eu nunca quis ter filhos e sei que nunca terei. Mas se quisesse, adotaria. Acho que ter filhos (biológicos) é uma atitude completamente egoísta e egocêntrica. Quero alguém com MEUS genes, com o MEU jeito, com o MEU nariz. Nunca se pensa naquele ser que está por vir. O mundo está um lixo…jamais botaria uma criança nele. Fora a dor de perder um filho, por doença, bala perdida, drogas, acidente de carro…deve ser horrível!
    E quando eles adolescem? Já imaginou ouvir “EU TE ODEIO!” do seu próprio filho? Deve ser de cortar os pulsos!
    Prefiro meus bichos! Eu amo eles, eles me amam, e nenhum responde atravessado pra mim! 😉
    Adorei o post!

  9. descordo com Guida e outro ai em cima…
    Ter filhos não é ser egoista!
    Nao quero alguem com meu genes e o caralho a quatro! Quero ter o prazer de ver minha barriga crescer, sentir um coraçãozinho batendo alem do meu, sentir os chutes, amamentar no peito…
    Não pq queremos que um filho que saia de nossas barrigas que não pensamos na ideia de adoção!
    Acho que egoismo é alguem não querer ter filho pra não correr o risco de sentir a dor de ve-lo te negar numa fase da vida, de ve-lo doente e até mesmo morrer! Isso tudo faz parte de nossas vidas!
    Se nossos pais tbm pensassem assim… fodeo, a gente nao estaria discutindo isso!
    Alem do mais os bichos tbm ficam doentes e nao podem dizer pra vc oq sentem e com isso ficam agonizando de dor, e tbm morrerm, vai dizer que nao sofremos quando nossos amados bichinhos morrem?
    Essas atitudes sim são egoista, ao meu ponto de vista!

    E mais uma vez, detonando nos posts Amanda! Parabens!

  10. Amanda, neste texto voce manifesta toda sua singularidade e expressa, de forma a me emocionar, a grande ALMA que reside em seu SER. Sua sensibilidade para com a vida, para com o outro me basta para continuar a acreditar no ser humano. A existencia fisica é deveras complicada e espinhoso, no entanto, existir é nossa oportunidade de crescimento Espiritual, rumo a Luz Maior que é o Grande Arquiteto do Universo. Pode acreditar, nossa existencia cumpre jornadas compreendidas, apenas, à luz da espiritualidade. Somos filhos da oportunidade que o cósmico nos oferece. Essa oportunidade é o portal pelo qual faremos da existencia o caminho da nossa evolução. Se na sua jornada fores escolhida para ser o portal de uma nova alma ( ser mãe ) que se manifestará, abrace-a e ame-a com todo o seu coração, apenas isto.

  11. Você é a minha “ídala” mandou MUITOOO bem!

    Como eu não havia descoberto seu blog ainda? ^^

    hehehehe

    Parabens querida!

  12. Filho é uma foda, em todos os sentidos. Felizes que os tem, é uma continuidade da nossa existência e tudo mais. Por outro lado, nem sempre um foda pode ter um filho, o que é muito triste. Felizmente existem muitas crianças por aí sem pai nem mãe, necessitando de carinho, comida ou abrigo. Se estamos fazendo algo por elas eu não sei, campanhas humanitárias são uma saída, mas o que resolve mesmo é trazer para si a responsabilidade, adotar, ajudar indiretamente, qualquer coisa, ou não.
    Opção temos todos os dias, desde a hora em que acordamos, principalmente, se vamos encarar a dura realidade ou tapar o sol com a peneira, e adiar, até quando puder nossa maldita herança nesta terra.
    Bem, eu optei por não ter mais filhos. Não que eu não o quisesse, SEMPRE quis, mas dadas as circunstâncias dessa minha vida optei por não plantar a semente na mãe que irá perpetuar minha grosseiria e “ogrice”. Prefiro, por enquanto, fazer isso sozinho e criar filhos que não são os meus, e tentar na medida do possível ensinar a eles o que talvez eu ensinasse aos meus próprios filhos, nascidos de uma bela foda, claro.

  13. Eu vejo em todos os seus posts uma indireta vontade de não ater o assunto principal a si mesma, querendo transmitir generalização para toda situação. É óbvio que alguns textos seus são de um público direcionados a outro público, como os de quinta, por exemplo.

    Fica aqui minha sugestão: seja mais autêntica e não tenha receio de ser quem você é.

    Nada pessoal… Eu gosto dos seu blog e frequento-o diariamente.

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