Tarde demais

E não é que o SaiDaqui está ficando importante? Mais uma participação especial: hoje quem manda aqui é o @justplay e um de seus contos. Eu quase chorei 🙁

Que tal se deliciar um pouco nas palavras abaixo?

Ah, e não deixe de visitar o blog dele e o Diário de Casal

E assim ele descobriu o que é o amor. Mas não sem antes se arrepender.

Marcos era um cara tranquilo. Não tinha muitos desejos que não fossem aqueles que, se formos falar hoje em dia, parecem bobos. Queria uma família legal e unida, dois carros – por opção, afinal quem levará as crianças pro treino quando ele estiver trabalhando? – que não precisavam necessariamente ser super-carros, uma casa com cerca baixinha, daquelas que só se vê em condomínios e em áreas nobres das grandes capitais, amar sua esposa incondicionalmente e poder dizer, todas as noites, que “Valeu a pena, mais um dia!”. Ele sabia da importância desse tipo de sonho em sua vida, só não sabia ainda como conquistá-los. E asssim ia vivendo, dia a dia, em busca de ocupar as suas horas.

Claudia era uma mulher moderna. Sabia exatamente o que queria, sabia exatamente o que fazer para ter o que queria e, apesar de ter uma grande vontade de se apaixonar e viver uma história daquelas de cinema, estava cercada de homens que queriam apenas algo dela – se empanturrar com suas curvas e sair fora. Com a correria da vida ‘moderna’, ela realmente não tinha tempo para se dedicar a conhecer alguém mais a fundo e, mesmo contra sua maior vontade, seguia vivendo dessa maneira. Ela sabia que um dia a hora dela chegaria e estava pronta pra isso.

Engraçado pensar que existe uma linha tênue de diferença entre as vidas de ambos e o que ambos queriam. Qualquer um que conhecesse os dois, fatalmente mataria a charada na hora. Mas, estamos falando das vidas de Marcos e Claudia, e nada na vida deles era tão simples assim. Por mais que tivessem amigos em comum, não haveria essa ligação. E por mais que ambos quisessem algumas coisas parecidas, eles não se conheciam diretamente. Alguma coisa precisaria acontecer pra mudar tudo isso e foi exatamente isso o que aconteceu.

Numa enorme coincidência do destino, naquele noite ambos ficaram na internet, cada qual com seu grupinho – que, sabidamente, eram formados pelas mesmas pessoas – e resolveram que essa seria a diversão naquele momento. E não mais do que de repente, eles se cruzaram. Entre tweets e retweets, algo tinha chamado a atenção dele – ao mesmo tempo que algo chamava a atenção dela. Foi tão mágico e parecia tão certo que, sério, as coisas simplesmente aconteceram. Em segundos eles já estavam se falando nos mensageiros da vida, contando tudo da vida um pro outro, como se fossem pessoas que se conhecessem a meses. Vamos lá, todos aqui já tivemos essa sensação um dia. E minutos transformaram-se em horas, e horas em dias. E em pouco tempo, a vida de um já não era mais a mesma sem a presença – ainda que virtual – do outro. E isso tinha que ter um próximo passo.

Mas lembra dali de cima, quando eu disse que a vida de ambos não tinha nada de fácil?

A idéia caiu como um bomba na cabeça de Marcos. Afinal de contas, que história é essa de, depois de velho, se apaixonar pela internet? Isso é coisa de adolescente, de gente que não tem vida social. Isso é coisa de gente maluca! Decidiu, naquele momento e sem comunicar Claudia, que a história tinha chegado ao fim. E não teve pedido de desculpas, não teve interesse em discutir o assunto, o rapaz simplesmente seguiu sua vida como se aquela fosse uma página virada. E nunca mais falou com Claudia.

E isso durou anos. 26 anos, pra ser mais preciso.

Foi quando ele, a trabalho, visitava Brasilia, a cidade dela. E como era a viva a lembrança, naquele momento, de que Claudia passava seus domingos no Lago Paranoa. Claro que ele lembrou daquela foto, tirada num dia qualquer, que mostrava a primeira vez que eles foram ‘juntos’ pra lá. Ele, representado por um cão que apareceu no local. Ela, fisicamente lá, abraçando carinhosamente o dócil animal. E foi assim, num domingo que teria uma reunião as 16h, que ele as 15h foi pra lá. E se eu disser pra você o que ele encontrou, talvez você imagine que esse roteiro está muito dramático.

Ela não estava lá. Nem poderia. Ela já havia mudado pra Alemanha, a trabalho, muitos anos antes. Mas ele não sabia disso e manteve essa falsa esperança de que, sei lá, talvez pudesse encontrar algo dela ali, talvez pudesse voltar no tempo e ter tido coragem pra descobrir o que era aquilo que mexia tanto com ambos. E na verdade, ele que tinha tido um casamento infeliz, completamente diferente daquilo que ele sempre sonhou, se pegou ali… uma lágrima escorrendo, um olhar pra um dos cantos que ele imaginava ser os que ela ficava quando ia ali, alguns cachorros brincando e vozes de crianças correndo e brincando. Ele finalmente descobriu o que é o amor. Pena que era muito tarde para ele, naquela altura.

Agora SaiDaqui!

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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