Da lambança que a gente faz na vida…

Desde que decidira mudar de vida, sofreu algumas consequências. Há dois anos era vítima de preconceito em todo círculo social que se envolvia: no trabalho, nos novos amigos, entre as pessoas que mal a conheciam. Gente que se achava sempre no direito de julgar apenas pelo que ela escrevia.

“De outro estado, não conhece ninguém. Cumprimenta todo mundo com abraço e beijo no rosto, não gosta de chimarrão. Fala alto, fala palavrão demais e tem sotaque estranho. Escreve sobre sexo e fala como se fosse homem. Não entende o bom e velho gauchês, vive tirando sarro e tratando bem quem mal conhece. Definitivamente, uma estranha.”

Sei que muitos pensavam assim. Infelizmente, alguns ainda o fazem. Mas hoje já não importa.

Porque aquela vontade de juntar as tralhas e voltar para minha terra já é quase inexistente. Aquela falta de raízes que tanto cultivo por medo de perder de novo pedestais que crio em pregos na areia, já não é tão solúvel assim. Aquele medo de ser tão diferente já virou orgulho.

Aquela vergonha de quando me julgam virou motivo para tirar sarro. E as diferenças se fizeram afinidades. Aquele chimarrão que antes odiava o gosto, hoje não vivo sem. Aquela estranheza ao ver alguém pilchado na rua, já virou orgulho. Dos termos diferentes, fiz novo dicionário. Uma mistura gostosa de paulistês interiorano com gauchês de tudo quanto é canto.

Dos amigos que sempre estiveram perto, a saudade e a distância continuam provando que não são tão importantes assim quando existe algo real. E dos amigos que nunca estiveram perto, a cada dia um novo e surpreendente “pode contar comigo”.

Da mandioca que virou aipim e macaxeira à mexerica que virou bergamota. De cachorro que virou cusco e cavalo que virou pingo. De misto que virou torrada à maionese que virou salada de batata. De menina que virou guria à vizinho que virou 1200km de distância.

Novas histórias de gente que se importa, que faz falta, que gosto de ter por perto. Velhos amigos conhecendo os novos. A família visitando a terra gaúcha. Fazendo planos de morar aqui um dia. Os amigos gaúchos entendendo um pouco mais da cultura paulista.

E essa lambança deliciosa que faço na vida, sendo um pouco de tudo e de todos que me emocionam. À vocês, um muito obrigada por me deixar fazer parte. Por um minuto, um ano ou uma vida toda.

Ass: Uma guria do interior de SP que mora em Porto Alegre e acredita que casa, é todo e qualquer lugar que tenha um pedaço do coração. Agora SaiDaqui! 😉

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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9 comentários

  1. bergamota WTF?!

    =P

  2. “Home is where our heart is”, com certeza!

    Se alguém disse pra ti que tu trataste bem quem mal conhece, esse alguém desconhece a cordialidade gaúcha. Claro, há sempre aqueles que são exceções, mas não vamos nos ater a eles. Vamos deixar essas pessoas mesquinhas e parasitas de lado, e viver a nossa vida como se deve.

    Seja bem-vinda ao teu novo estado, e ao teu novo grupo de amigos. Espero que curta a estadia, e que curta para sempre!

  3. Bergamota, no Rio também conhecida como tangerina.
    Foi pelo seu jeito de me tratar bem e mal me conhecer que fez tornar-me mais receptivo e te ter como ídola blogueira. Uma das poucas que mantém um relacionamento tão próximo com os fãs (na verdade, a única que conheço assim). Parabéns por ser como é.
    Beijão! =)

  4. Que lindo post, Amandinha!!! Tu tens um jeito especial que faz com que todo mundo queria ser teu melhor amigo! É por isso que tu te sentes em casa aqui… por causa dos teus amigos!!! 🙂

  5. O que te faz passar por cima de qualquer regionalismo ou saudade, é o que te fez/faz criar essas raízes aí em Porto Alegre. São as suas caracteríticas de atraírem as pessoas para perto (aliás todos querem isso). Essa qualidade inerente a vc, faz com que os outros sintam que estão próximos mesmo estando a 2000 ou 5000 km de distância. E isso supera qualquer distância física, ou melhor faz com que ela não exista.

  6. Querida Amanda,”famas ruins” todos temos. A do Gaúcho, de ser “grosso”, ou de não aceitar alguns Estados, hoje em dia é pessoal, então lhe digo que você não é apenas uma Guria vinda de São Paulo, você é uma mulher especial, amiga, carinhosa, divertida e uma excelente companhia. Falo por mim e por outros, com certeza, que és e sempre será muito bem vinda.
    Beijos e parabens por mais um ótimo trabalho.
    P.s.: Já és certificada….

  7. Oi Amanda!

    Tive uma aula hoje muito legal em que o prof fez um trabalho com um texto seu e nos recomendou a leitura do seu blog.

    Amando o seu blog…..!

    Silvia Travassos

  8. Nem tudo está perdido, pelo menos aprendeu a gostar de chimarrão.. 🙂 Belo texto.

  9. Excelente Post!
    Me fez rever muita coisa.
    Encontro-me numa situação parecida com a tua.
    Chegando de SP a pouco, estabelecendo-me por aqui (Porto Alegre), com dificuldade e encarando muita (muita mesmo) solidão, pois trabalho demais, e pessoal aqui é reservado quanto a novas amizades.
    As vezes sinto vontade de colocar o que posso no carro e sumir daqui, outros momentos sinto uma vontade irresistível de trazer todo mundo pra cá e ficar de vez.
    Adorei mesmo sua postagem, para mim, fez diferença e me ajudou a ver que com o tempo, sim, as coisas podem ser diferentes.
    Abraços!

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