O valor de ser “normal” pra quem é “especial”

Ela o avistou de longe. Ele estava sentado, encolhido num banco de praça, com uma mão no colo.

Ao seu lado, um pacote de biscoitos. E havia desprezo em seus olhos.

Ela sentiu o rancor ao longe, e decidiu passar  mais perto, só de curiosa que era.

Conforme se aproximava, notava que todas as pessoas reparavam e olhavam para ele de maneira diferente.  E que ele respondia com o mesmo olhar rude, às vezes até com palavras ácidas.

Percebeu então que ele não possuía um dos braços, e entendeu na hora o que se passava.

Era um senhor de mais ou menos 40 anos de idade. Grisalho, magro, bem afeiçoado e vestido de maneira casual com velhos jeans e camiseta creme. Uma das mangas estava amarrada.

Engraçado como tempo e desdém enrijece o coração das pessoas. Parecia que ele estava cansado daquele mundo de preconceitos, onde todos olhavam para ele como uma aberração qualquer.

Ela decidiu sentar-se ao lado dele. Pegaria o próximo ônibus. O trabalho poderia esperar.

Disse um bom dia simpático, e não obteve resposta. Ficou em silêncio por tempo indeterminado, até que ele iniciou uma conversa:

“ Quer um biscoito?”

Ela negou educadamente, alegando que já havia tomado café da manhã.

“Desculpe pela grosseria. É que não estou acostumado com pessoas sendo simpáticas comigo” – Ele acrescentou.

Ela assentiu com a cabeça, e disse que entendia. Contou a história de sua irmã mais nova, um anjo especial que papai do céu enviou pra ela cuidar. Contou das aflições que passaram, explicou a síndrome dela pra ele. E finalizou dizendo como se sentia mal todas as vezes que alguém a olhava daquele jeito diferente.

Contou com aperto no coração quantas vezes ela mesma sentia vontade de xingar ou agredir aquelas pessoas preconceituosas que a olhavam com desdém. E de como ela precisou se segurar em todas elas.

Detalhou o máximo que pode como a pequena irmã a abraçava quando sentia vergonha de ser “diferente” e chorava dizendo que aquilo não era justo. E de como ver aquela cena sempre partia o seu coração. Acho que se ela pudesse, trocaria de papéis com a pequena, só para não vê-la chorar daquela forma.

À essa altura, o homem estava com lágrimas nos olhos. Perguntou se podia não dizer nada.

Ela apenas sorriu. Desejou-lhe um bom dia, e disse que não ligasse pro que os outros pensassem. Mandou-o buscar felicidade dentro de si mesmo, e de quem não ligava por ele ser especial.

Foi embora. Não disseram mais nada.

No dia seguinte, lá estava ele, no mesmo lugar. Mas com semblante muito melhor. Ele a avistou de longe, deu um largo sorriso e gritou: “Bom dia menina!”. Ela acenou com a cabeça e foi trabalhar contente.

Definitivamente, pessoas especias são mais normais do que você imagina.

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SaiDaqui!

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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4 comentários

  1. Nossa babe, que lindo!

    E sim, vivemos (ainda, infelizmente) numa sociedade que só dá valor ao ‘perfeito’. Todo e qualquer defeito de um ser humano, não importa cor, idade, classe social, é visto como algo ruim, feio e as vezes nojento.

    E mais infelizmente ainda é saber que isso irá demorar muito a mudar. Pessoas são ruins com pessoas, essa é a verdade.

    Façamos o que for possível pra que nós, minoria que seja, tratemos estas pessoas como devem ser tratadas: como pessoas.

    Te amo :*

  2. Ou talvez, eles sejam realmente mais especiais que as pessoas normais.

  3. Como é meu primeiro comentário em 2010. Feliz Ano Novo.
    Realmente lindo Amanda!
    Tenho uma prima que tem Down e ela é uma das pessoas mais animadas que eu conheço, não para quieta, não pode ver um homem bonito perto dela que ela já vai conversar com ele.
    Outra história bonita é de um colega de faculdade que é paraplégico, ele não perdia uma festa e sempre era um dos mais animados! Ele era uma figura sempre presente.

  4. Sei lá. Não consigo tratar ninguém diferente. Pra mim, todo mundo é humano igual. Acho que deveria ser assim com todo mundo né?
    Horrível saber que existe tanto preconceito no mundo. Infelizmente.
    Pouco a pouco, podemos mudar tudo, fazer nossa parte ^^

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