SERENDIPITY
Sentia-se sempre e tanto diferente, que tudo que todo mundo fazia sempre parecia mais do mesmo igual que tivera vivido até então. Olhava o mundo e só conseguia pensar em uma palavra pra descrevê-lo: morno. Era como se sua vida inteira tivesse vivido uma sequência de banhos-maria, populados por gente que quase sabe o que quer e que quase consegue o que acha que sonha.
Cansou de quases e decidiu ser liberta. Bateu o pé, deu a volta ao mundo. Abandonou tudo e todos, gostou por várias vezes de começar do zero. Até que o zero também virasse morno, e sempre que sentia necessidade de pular em águas mais quentes, assim o fazia.
Virou madrugadas, bebeu todas e brigou um pouco. Discordou de um bando de gente e acolheu outros, que mal conhecia. Julgou vários e se arrependeu quando foi julgada por outros. Pediu desculpas, desculpou alguns e mantém ainda o rancor por vários.
Assumiu seu lado humano e decidiu que gosta assim, cheia de detalhes. Afirma até hoje que tenta se conhecer um pouquinho mais todos os dias, mas chora em silêncio sempre que se decepciona. Aliás, aprendeu a colher decepções e aceitou que são todas culpa dela mesma: por ter criado expectativas.
Trocou de namorados, de empregos, de cidades, de gostos, de estilo, de amigos e de bichos de estimação. Trocou emoções, desafetos e abraços. Beijou vários sapos, mas a maioria não soube virar príncipe (não foi culpa de ninguém – apenas um misto de não se completar e não bastar). Foi princesa pra alguns, rainha megera pra outros. Dependia muito de como era a reciprocidade.
Tatuou o corpo, talvez pra provar visualmente também que era diferente, e que não estava nem aí pro que pensassem disso. Aliás, escreveu tudo que pensava e postou pra ninguém. Ligou o botão escrito “FODA-SE” pro mundo e decidiu que só tinha UM objetivo a perseguir: ser feliz. E que tudo que viesse de bom no caminho, seria SERENDIPITY.