Perdi a rima

Eu confesso: perdi a graça.

Perdi a vontade, o jeito, a inspiração. Por tantas vezes que me lembrei de esquecer de falar de amor, que um belo dia esqueci de verdade. A conclusão é que perdi a mão pra falar de sentimento. Perdi tudo: a rima, a prosa, a vontade, o coração.

Fui engolida pelo dia a dia, pela correria, pelas dívidas e pela tempestade que nunca virou calmaria.  Percebi isso no dia em que a chuva me irritou: logo eu, que sempre achei que fosse pra sempre do tipo que só faz sentir mais viva a cada pingo.

Escorri o amor feito água de macarrão al dente e decidi tirar do baú de prioridades tudo que falava de sentimento. Virei adulta (e morna) pra todo assunto que se referisse ao não palpável. Parei de ligar, de mandar mensagem, de me importar.

O beijo, antes apaixonado, virou rotina. Abraço virou praxe. Passei a responder “eu te amos” com “boa noite” e demonstrações de afeto com “cara de ué”. Desliguei a chave do emocional e passei a agir apenas racionalmente.

Até me perder no vazio que a vida causa dentro da gente quando a gente esquece de sentir, e perceber que nada mais faz sentido se não tem sentimento. Pedi desculpas (pra mim mesma) e voltei a me permitir.

E talvez esse seja um texto de recomeço. Engraçado, porque recomeço é uma palavra que a gente usa pra dizer de algo que um dia já acabou, mas; o que acabou de mim? Talvez a esperança, a fé na humanidade e a capacidade de amar.

Que esse seja então um texto de recomeço de mim mesma, que morri para sentimentos  e de hoje em diante, me propus a renascer, a deixar que os olhos brilhem novamente por motivos simples.

Quero de novo sofrer por amor, falar de desamor, reclamar de gente que se permite chegar ao ponto em que eu cheguei e voltar a chorar sem motivo. Quero voltar a sentir: tudo de bom e ruim dos outros, pra conseguir filtrar e falar de amor pra mim mesma.

E que a confissão inicial deste texto perca a veracidade em breve.

De hoje em diante, vou quebrar alguns pratos, rever meus conceitos e tirar peso morto da minha vida. Quero menos gente, com mais sentimento, com mais coração. Quero mais detalhes, menos correrias, menos fantasmas.

Quero você, mas só se você me quiser também.

Vamos trocar sentimento? Acabei de aprender que vale  à pena.

 

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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