Me espera, amor

Por Dani Bovolento

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Você se esconde de mim e eu procuro. Procuro no meio das ruas, furando os carros, indo na direção contrária pra não ver o semáforo gritando em vermelho, pra não ter que parar e perder tempo parado sem procurar você por aí e olha, eu sinto muito, eu sinto mesmo quando disse que não vinha te ver hoje, sinto mais ainda por não ter visto o teu vestidinho de botão novo, por não ter escrito cartão, por não ter estado aqui.

Eu demorei pra chegar porque tava largado lá em casa, com medo e cerveja, repetindo pra mim no reflexo do vidro, ei, cara, você gosta dela, por que tanto medo de se entregar assim?, por que essa coisa de que você não precisa de ninguém quando claramente sofreria se ela fosse embora de vez?, daí eu levantei, peguei a chave do carro, parei na porta e olha, quase não consegui abrir a maçaneta porque eu tremia. Engraçado isso porque eu me visto bem, com segurança, pra passar aquela ideia de que eu sou um cara em quem eles podem confiar, um cara que carrega o mundo nas costas e você nos braços e, ainda assim, me vi ali perdido, pequeno, confuso, mas eu a amo, então vai em frente, porra!

Não consegui ligar o carro. Suei. Suei pra caralho e achei que fosse te perder porque eu sempre estrago tudo. Fiquei naquela de ligar ou não, liga logo, não ligo, ela vai descobrir as minhas manias feias e vai dar o fora, vai dar o pé, vai jogar os meus presentes no lixo e vai me matar dentro dela, vai chegar um dia e dizer que se apaixonou por um cara, um músico, isso, um músico, e contar que ele tem uma voz bonita e canta com violão pra ela, e eu vou me amargurar de tal forma, vou fingir que vou ficar bem, mas sei que vou morrer por dentro porque ela tá me matando, e olha que besteira é essa de pensar assim, ela tá aqui agora e não no futuro, rapaz, vai logo atrás dela.

E eu fui. Vim, na verdade, e cê já tinha ido embora.

Ô, meu bem, me espera e não vai, não. Me espera aí, parada num futuro-quase-concretizado que eu não quero usar teu nome numa frase no passado, que eu não quero ter que explicar a burrada que eu fiz de não ter vindo te buscar logo. Larga essa mala na escada rolante e se perde no aeroporto com o teu vestido novo de botão que cê queria tanto me mostrar, eu te grito, uso alto-falante, anuncio o teu nome no visor e te encontro antes de você ir, te impeço, por favor, meu bem, guenta mais um pouco que eu tô chegando. Faz aquela cara de brava, mas me deixa te ver, deixa eu te fazer presente, me fazer presente, construir uma casinha pro teu cachorro e largar a cerveja e o medo um pouco de lado pra te beijar a testa e dizer que fico, eu fico pelo bem de todos e felicidade geral da minha vida, eu fico porque preciso olhar mais vezes pros seus olhos e cair pra dentro de você de manhã, me espera, vai. E é sobre o tempo que eu tanto prezo, sobre sempre estar na hora que eu erro, dessa vez eu me atrasei e não tem justificativa, mas sabe aquela coisa de que as coisas boas da vida sempre fogem do planejamento? Cê saiu de todas as linhas do meu Excel e eu tô indo atrás de você pra te buscar, pra te parar, espera eu passar por essa merda desse trânsito e me diz que fica, que aceita as minhas desculpas, me aceita as minhas flores e que me aceita também.

Me espera, amor, que eu tô chegando pra te salvar do mundo.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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