Trilha do texto AQUI.
Foi tão fácil gostar de você que a princípio, eu me neguei. Inventei 234 razões extras (além das 189 que a própria vida já insitia em ter por si só) e contei mais 12 mentiras para o meu coração esquecer que você existia.
Era coisa da minha cabeça, romantismo infantil; paixonite aguda de quem precisa ter um motivo pra fechar os olhos e inventar histórias de amor que deixariam Eduardo e Mônica no chinelo. Só podia.
Os dias passaram, o acaso e o tempo aconteceram e dentre as 135 coincidências que a vida fez questão de esfregar na nossa cara, percebi finalmente que mesmo que nunca fôssemos nada, já éramos melhores que Eduardo e Mônica: gosto, cumplicidade, mentalidade, maturidade. Foi sempre tudo tão igual e milimétricamente encaixado que serviu até para motivo de piada alheia.
O medo veio quando começamos a terminar as frases do outro, pensar nas mesmas coisas e utilizar as mesmas referências para piadas completamente fora do contexto. Era como um filme que passava repetidamente na minha cabeça, de quando minha mãe disse que felicidade de verdade, era encontrar alguém que pensasse como nós, para que com o tempo, as coisas ficassem mais fáceis, mais leves.
E não somente fácil ou leve: com você foi amor de cara. Sem rodeio, sem meio termo. Teve vontade, intensidade, espontaneidade, aventura e esse desejo louco de querer mais, em todo e qualquer aspecto.
Mais ainda no sexo. Ah, o sexo…tratado com tanta naturalidade, cheio de vontade mútua. Esse foco no prazer do outro, no gemido alto, no gozo constante. É como se eu já te conhecesse de outras vidas: o encaixe perfeito de tudo que nunca tive, o pacote completo de tudo que sempre escrevi em tentativas frustradas de encontrar alguém que me entendesse.
E no fim, foi melhor que qualquer texto poderia ter descrito: o detalhe da sua mão entre os meus cabelos enquanto me olha fixo e sente vontade nenhuma de desviar. A proximidade da sua respiração sempre doce, me dando um aviso prévio de que o beijo vai ser molhado, intenso, demorado. Sua boca quente percorrendo minha língua na medida em que o abraço fica mais forte e quase diz sem precisar de palavras pra não sairmos nunca mais desse momento.
Sua mão que me causa arrepios antes mesmo de começar a percorrer o corpo, o toque delicado da ponta dos seus dedos que descem por entre minhas pernas. Meu gemido baixo no seu ouvido cada vez que sinto seu cheiro mais perto e nosso jeito bruto de demonstrar que gosta entre muito suor.
A intensidade do sexo ditada quase sempre pela trilha sonora, o começo delicado e úmido que logo se transforma em saudade, desejo e vontade que não acabe. A quase-raiva de tanto sentimento que explode junto, misturada à necessidade de demonstrar tudo de uma vez que transformam o sexo em orquestra em ápice.
O gozo sincronizado, longo, molhado, puro e quente que diz por si. O pós-sexo preguiçoso, risonho e delicado que chega sem pedir licença e fica, acompanhado de leves espasmos e arrepios tardios.
A fome, o banho, a conversa corriqueira, o sono.
Tudo tão extremamente fácil, que transforma a negação em algo impossível, impensável, inviável. Tão fácil inclusive que basta sentir, para entender de uma vez que amor de verdade não precisa envolver dramas, opostos e complicações pra ser bonito. Pelo contrário.
Basta amar as pequenas coisas.