[Sugestão de música pra acompanhar a leitura]
Talvez a parte mais difícil da frustração é ter que admitir que a culpa de sentí-la é toda sua. Por ter criado expectativas onde não devia, por ter acreditado e fantasiado coisas que ninguém nunca te prometeu (ou até prometeu, mas não pode/quis cumprir). Se pararmos pra analisar friamente, puta coisa babaca essa nossa mania de romantizar tudo que nunca foi dito e criar expectativa no que ainda nem é, não é mesmo?
É que na cartilha sempre foi muito fácil dizer que você deve se amar, não depender de ninguém para carregar seu sorriso e tratar de ser feliz sozinho, mas todos sabemos que na prática o buraco é mais embaixo. Porque é no silêncio do outro que mora nossa depressão, brincando de ciranda com a solidão e a ansiedade, que por inúmeras vezes querem gritar, mesmo sabendo que a reposta não vem.
Se eu pudesse eleger o pior sentimento da vida, seria a indiferença. Porque dói pra caralho perceber que você não foi suficiente pra fazer alguém ainda mais feliz. Que é indiferente estar ali na cadeira do lado ou na China.
E menino, eu confesso, sua indiferença está me matando por dentro.
Meu estômago está na boca e o orgulho está no chão. Se você já não me quer, por favor, fala de uma vez. Grita comigo e cospe na minha cara se necessário, mas não me deixa na geladeira sem saber se corro pra longe ou pros seus braços. Me deixa sem saber o que fazer com todas as lembranças de risos largos, cervejas intermináveis e roupas quase sempre pelo chão, mas não me mata de dúvida. Rosna, ofende, vomita…destila seu sentimento, seja ele qual for, mas fala comigo. Para de se esconder atrás desse olhar gélido de tanto faz, porque tanto faz é tudo que eu não quero que sejamos.
Sabe, eu já vi beleza em tudo que nunca foi dito. Houve um tempo em que eu achava uma delícia romantizar o silêncio. Assimilar o sofrer e transformar em cenas imaginárias que quase nunca aconteciam. Mas o tempo foi passando e meu maior pesadelo passou a ser a inércia. Acho que estou velha e sem paciência pra tentar montar esse quebra-cabeças de emoções nunca externadas. Quero mesmo é que seja claro: preferencialmente escrito em letras garrafais pra eu entender de uma vez o que você quer de mim.
Eu te imploro: beija minha boca ou joga meu coração no chão, só não deixa a gente ser morno. No fundo, tudo que eu sempre quis é que a gente queime (seja de amor ou de tristeza). E que fique claro desde já, eu faria tudo de novo.
Não tem espaço pra arrependimento nenhum em ter sido feliz, independente se só até agora ou se pra continuar sendo.
