Eu te odeio

homem

 

Nós fomos um belo casal. Todo mundo dizia que éramos opostos que se complementavam e que era inspirador ver como nos tratávamos. De fato, nunca faltou amor: havia romantismo, havia cuidado, havia amizade.

Te admirei ainda mais quando fez dos meus filhos os teus e por toda a maneira que os tratou enquanto estivemos juntos: a cada passeio no parque, banho, viagem, médico, bronca, mimo, piquenique ou cafuné que dispensou à eles, eu sentia mais certeza de ter encontrado o homem da minha vida.

Mas a vida e o tempo aconteceram e levaram com eles o sentimento tão lindo que um dia ousamos chamar de amor, deixando restar apenas o carinho e o respeito, que por sua vez não bastaram para manter-nos juntos. “Tudo bem”, eu pensava, na ilusão de que não importasse o que acontecesse, sempre teríamos uma relação amigável e respeitosa.

Todo término é difícil -ainda mais quando somos a parte que ainda quer tentar- eu admito. Cheguei a relevar cada ofensa, desconfiança, ataque verbal de fúria ou gelo intencional até que as coisas se acalmassem entre nós. Engoli todo meu orgulho e abaixei a cabeça para tudo que dito em horas de raiva, me faria arrepender de ter dito depois.

As coisas demoraram um pouco, mas pareciam estar se ajeitando: pelo menos sobrara o respeito ao final de nossa tempestade segregacional. E sabe, eu até entendo a gente querer dar um tempo de quem partiu nosso coração.

Mas eu nunca vou entender seu sumiço da vida deles. Tampouco vou te perdoar pela ausência não justificada; pelo interesse, presença e apoio  não dados que deixava seus corações em frangalhos um pouco mais a cada dia. No fundo, o erro deles foi apenas ter te amado.

Que difícil ver quem mais se ama sofrer por algo que você não pode mudar: me rasgou a alma vê-los esperando por dias, semanas e meses a fio por uma reciprocidade que nunca veio.  Eu me senti culpada a cada vez que não soube responder pra eles exatamente o porquê de você nunca aparecer.

Sorte a minha que o tempo cura e essa ausência dói cada vez menos.

Sabe, eu te amei. Te admirei. Te respeitarei por toda a vida e guardarei com carinho tudo de bom que vivemos: nada mudará isso, nem hoje, nem nunca.  Mas como a vida nunca foi escrita em preto e branco, eu também te odiarei. Apenas por ter fingido amá-los.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

compartilhe esse post