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André era casado com Fabiana. Bianca era noiva de Rafael.
André e Bianca trabalhavam juntos. Fabiana e Rafael não se conheciam, mas além de serem muito parecidos em personalidade, tinham em comum o desespero de fazer um relacionamento falido dar certo.
Aí, a vida aconteceu e em meio ao caos, Bianca se apaixonou por André (e até achou que era correspondida). Sem nenhuma boa justificativa pra isso, ambos traíram.
Bianca terminou seu noivado com Rafael (que escolheu sair do país depois de ter certeza que não havia mais esperanças de reatar) e esperou que André fizesse o mesmo com seu casamento. Mas por quase dois anos, isso não aconteceu. Ela se perdeu de si mesma, desesperou-se por um amor cheio de migalhas e omissões do mundo e quando se deu conta, já não sabia mais quem era.
Chorou desesperadamente incontáveis vezes, mas sabia que no fundo, chorar não resolveria nada. Bianca procurou Fabiana e contou toda a verdade sobre ela e André. Ouviu merecidas palavras de julgamento e ofensa, outras nem tanto. Aceitou levar sozinha o peso da culpa, se isso fizesse Fabiana sentir-se melhor.
Fato é que André foi involuntariamente posto na parede de ambos os lados. Entre justificativas de não machucar uma e proteger a outra, percebeu que no fundo, não merecia nenhuma das duas. No fundo, André só amava a si mesmo.
Mas novela Mexicana que a vida é, sentimentos não morrem de um dia para o outro e então, depois de muito pensar e conversar com André, Bianca decidiu seguir seu coração, apesar de todos os conselhos contrários que todas as pessoas à sua volta lhe deram (fácil julgar, mas eles não sabiam o que ela sentia, não é mesmo?)
Tudo parecia estar indo bem – na medida do possível numa situação dessas – nas seguintes semanas: ela o ajudou a mudar de casa, passaram a sair juntos (embora ainda escondidos) e a ideia era que eles dessem tempo ao tempo para que a ferida de todo mundo cicatrizasse.
Filme de terror sem fim que a vida é, o destino quis que Bianca visse no celular de André mensagens sacanas e agradecimentos às visitas proibidas vindas de Fabiana enquanto ele tomava banho – justo numa manhã pós sexo. O amor delicado que via-se colado aos poucos então despedaçou-se de vez no chão. Ironia do destino, ela sentia agora na pele o que era ser traída.
Provida de uma paz de espírito que até hoje não sabe explicar, Bianca respirou fundo, fingiu demência, tomou seu banho, desmascarou André, pegou suas coisas e deixou-o falando sozinho. Saiu sem virar as costas e naquele dia, jurou pra si mesma nunca mais viver um amor meio bosta.
Mas, comédia romântica que a vida é, nos dias seguintes André não sossegaria enquanto Bianca não lhe desse uma chance de se explicar. Exausta de tudo isso e querendo colocar um ponto final na história, conversaram.
Hopeless Romantic que Bianca sempre foi, enquanto André se mostrava realmente arrependido e desesperado, tentou entender o quanto ele havia se perdido de si mesmo, e acreditou que aquele monstro em sua frente não era a essência que ela se apaixonara anteriormente. Ouviu tanta verdade dolorida, como por exemplo a maneira que ele se apoiava no amor dela para ter energias e fazer o que bem entendesse, já que sabia que ela sempre voltaria; ou que só ela era capaz de despertar a parte boa que ainda o habitava e que ele não sabia o que fazer sem ela, apesar de mentir e omitir tanta coisa por tanto tempo. Que ele tinha certeza absoluta que ela era o amor de sua vida, e que se arrependia amargamente de não ter cuidado bem. Que ele sabia que não merecia, mas que ela era a única chance de felicidade dele. Logo ele, orgulhoso de nunca ter chorado, derramou uma única lágrima e ela entendeu como um sinal.
Apesar de saber que criar expectativas é a pior coisa do planeta, Bianca Coração Quebrado ainda era capaz de imaginar um conto de fadas (meu Deus, como ela amava aquele homem, não é mesmo?) em meio à essa reviravolta de filme que parecia estar vivendo. Beijaram-se sob a luz da lua mais linda que ela jura se lembrar.
Mas, dura realidade que a vida é, logo Bianca percebeu que contos de fada não existem.
Aquele cara que, na fantasia dela teria todos os motivos do mundo para provar o mais rápido possível que mudou, que faria grandes demonstrações de amor em público, apresentaria pra sua família e seus amigos, que faria questão de gritar pro mundo que agora eles estavam juntos e que nada nunca mais os separaria; não existiu.
O que de verdade eles passaram a viver foi a eterna expectativa da projeção do que sabiam que podiam ser: um viveu esperando do outro o que não fez. Ela, na esperança de um marco de virada, de prova de amor, de supervalorização compensativa e ele, na vergonha do que fez e na tentativa de proteger a delicadeza da relação, ambos fecharam-se na falta de estabilidade e confiança que cada vez mais dominou o que chamavam de relacionamento.
Entre alguns “chegas” e outros “voltas”, estraçalharam cada vez mais o amor que ainda sentiam pelo outro. Sempre sobrou falta de eloquência, confiança e estabilidade; mas a gota d´água para ambos foi quando começou a faltar respeito.
O sonho virou pesadelo em menos de um ano: DRs intermináveis, gritaria e agressão verbal faziam cada vez mais parte da rotina e, cansados de tudo isso, calaram-se. Já não havia nem forças pra discutir, entraram na fase da aceitação. Aceitação de que nunca foram completamente felizes da maneira certa, que nunca tiveram calmaria e que talvez, nunca tivessem. Nesse ponto, era extremamente fácil despertar o pior lado do outro, os triggers eram cada vez mais conhecidos e provocados. Bianca literalmente sempre esperava o pior de André, e vice e versa.
Ambos justificavam sua falta de educação para com o outro como “personalidade forte”, apesar de saber que era apenas a voz de um amor machucado e um orgulho ferido falando mais alto o tempo todo.
Verdade seja dita, Bianca se vitimizou de uma situação sem admitir sua parcela de culpa, e esperou sentada por uma história de amor que nunca abriu de verdade seu coração pra viver. Por causa do passado, teve vergonha de não ter uma história linda pra contar, e achou-se merecedora de provas eloquentes de amor que lhe trouxessem paz de espírito, confiança e estabilidade, sem preocupar-se no que ela daria de si nessa equação de reciprocidade. Acabou se transformando numa pessoa ciumenta, insegura, desconfiada e o pior de tudo: perdida de sua essência. No fundo, ela nunca se sentiu verdadeiramente desejada, amada e valorizada e isso sempre a fez sentir insuficiente. Ganhou peso, perdeu autoestima e o brilho nos olhos. Passou a sorrir falso e mendigar amor. Admitiu que esse era o fundo do poço.
André, por outro lado, tinha medo dele mesmo. Aparentemente, nem ele sabia mais quem era e porquê tinha feito as coisas que fez. Isso o fez perder a confiança em si mesmo e na capacidade de fazer alguém feliz. Fechou-se no mundo obscuro de seus pensamentos, que desde então só tinham capacidade de serem eloquentes e externalizados quando pro mal: tudo sempre em preto e branco, sem sorrisos, regados à melancolia e frases dúbias. Sempre pensava demais antes de falar, sempre prometia coisas bobas e nunca cumpria suas próprias promessas, sem notar o quanto isso denegria ainda mais sua imagem com Bianca.
Estavam a um passo de odiarem-se. Não havia companheirismo, não havia empatia, não havia admiração mutua. Não havia compreensão, não havia respeito.
Mas felizmente ainda havia bom senso, e decidiram então ter uma conversa definitiva. Nela, decidiram que não mereciam o mal que estavam fazendo-se. Que ambos queriam sua própria felicidade e a felicidade do outro e que, pra isso acontecer, distanciariam-se. Haviam de matar o mal pela raiz e realmente fazer algo diferente dessa vez: precisavam encontrar quem realmente eram antes de serem capazes de amar ao outro.
Deixariam que o destino decidisse depois, se esse era um amor flor de lótus ou só miragem em deserto infértil.
PS: No que tangia à Bianca, ela nunca deixaria de acreditar nas reviravoltas que a vida pode dar, nem de ter esperanças em viver seu conto de fadas.