A vida se encarrega

A vida sempre se encarrega de cuidar sozinha de assuntos que por inúmeras vezes sentimos vontade de resolver no grito, no tapa; mas somos obrigados a tratar apenas com indiferença.

O tempo e os tombos me tornaram cética quanto ao caráter das pessoas. Foram tantos “profissionais bons”, “gente reconhecida e admirada” e “amigos” que cometeram gafes irreversíveis para uma boa convivência, que já não me admiro com tamanhas deselegâncias trocadas mundo afora.

Calar-me custou um estômago. A úlcera que habita meu corpo é resultado da indiferença forçada pela mente: foram as incontáveis noites em claro, tentando entender porque pessoas que (pelo menos em teoria) gostam de mim agiam de tão má fé e me prejudicavam tanto?  Seria possível tanto fingimento? Ou seria tudo uma questão de escolha de prioridades?

Desde aquele pedido de casamento, do seu primeiro amor, primeiro sexo, primeiro namorado, que nunca deu em nada. Pelas promessas não cumpridas e pelo anel que vejo todos os dias. Pela falta de coragem em me dar satisfação ou conversar sobre algo que justificasse o fim. Pela vergonha que ele sente até hoje em aparecer.

Desde aquela amizade de 15 anos, forçada a chegar ao fim por ciúme de terceiros, quando seu -até então- melhor amigo mentiu e sumiu. Pelas inúmeras chances que ele perdeu em desculpar-se e pelos olhos sem coragem de olhar dentro dos meus sempre que me encontra ao acaso.

Desde aquele outro relacionamento, quando mudamos de estado, moramos juntos e ser gente grande foi demais para a outra parte. Pelo fim que poderia ter sido mais tranquilo, mas que terminou na morte de um gato, contas no vermelho e calote no banco (em meu nome), além de magoar a própria família com as mentiras que contou. Pela consciência tranquila que eu posso ter, agora.

Desde aquele outro emprego, que vindo de promessas de profissionais tão renomados  conhecidos no mercado, se transformaram em rotinas ásperas, duras e injustas. Pela falta de palavra, de honestidade ou de compaixão com quem mudou de carreira, de vida, de cidade por eles, e eles jogaram na rua (exatamente o que prometeram não fazer). Pelo real caráter da empresa ser finalmente conhecido por outras pessoas, que souberam abrir seus olhos e nem precisaram ouvir nada da minha boca.

Desde aquela empresa, que sempre tão correta e profissional, em alta na mídia pelo genial projeto que criaram, enquanto ex-funcionários lutam na justiça pra receber o que já é deles por direito. Pela (também) falta de noção em saber que eu iria me mudar pra perto e mesmo assim, não ter dito nada sobre me dispensar.

Desde aquele amigo, que quis ser sócio. Um projeto genial que tinha tudo pra dar certo, onde a amizade perdurava e tudo seria meio a meio. Até que ao primeiro sinal de fumaça, ele demonstrou que o real desejo era que eu me queimasse sozinha. Pela falta de palavra, em transformar o dividimos tudo em “se der lucro é nosso, se der prejuízo é seu”.

Até esta, mais atual, vindo da “amiga” que comprou de você algumas coisas há mais de 10 meses, e até agora você não viu a cor de um real desse dinheiro (ou satisfação que o valesse). Por todas as desculpas esfarrapadas, ausência de respostas e falta de palavra que a pessoa demonstra. Pela minha idiotice, em ter confiado. Pelo dinheiro alto que agora me faz falta e a pessoa nem parece se preocupar em pagar. Pela decepção, em saber que ela tem condições, mas simplesmente não se importa em honrar com seu acordo.

Enquanto eu fico quieta, roo as unhas, sinto dor de estômago, dou meus pulos pra ajeitar a vida e a conta bancária, vou pagando com indiferença, com silêncio. Mas torcendo MUITO, pra que a vida realmente se encarregue.

E que tudo que você fez por mim (bom ou ruim), te retorne em dobro.

Amém.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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