Aparências

Abriu mais uma cerveja. Sorriu ao lembrar de quantas já tinha tomado e por meio segundo quase achou que ia se preocupar com o que as pessoas iam pensar daquilo (se soubessem): mas enganou-se. Se perdeu em meio à alguns pensamentos, questionando-se se entendia mesmo de cerveja ou se tudo aquilo era só o prazer de prova-las. Claro que era a segunda opção: deixava as chatices técnicas para quem fizesse melhor proveito, porque para ela, bastava saber se tal gosto agradava-lhe ou não o paladar, apenas.

Trazia na postura um ar de mulher decidida que causava calafrios em quem ainda não a conhecesse. Pra ser sincera, às vezes até se aproveitava disso para evitar que pessoas indesejáveis se aproximassem demais.

Mal sabiam eles que era tudo um teatro. Na vida real, não tinha nada de mulher fatal: tanto que naquele dia, vestia uma camiseta velha, rasgada na gola, de um jeito que lhe caía de um lado e deixava transparecer um pedaço colorido da pele no ombro. Por baixo, apenas uma calcinha – de algodão. E não importava-se em recebê-lo assim.

Quando o interfone tocasse, ela abriria sem nem mesmo verificar se era ele. E quando ele entrasse, dispensaria palavras, porque ainda era dessas que acreditam em conversar com os olhos. Sorriria grande pra confessar sem palavras que estava com saudade, e que pensara nele o dia todo, apesar do orgulho não querer fazê-lo.

Logo ela, tão independente e segura de si, apaixonada. Sabia que conseguiria viver sem ele se quisesse (afinal, tinha conseguido até então, certo?) – mas esse era o problema: ela não queria. Descartou aquele monte de pensamentos quando o viu entrar. Todos sumiram como fumaça ao encontrá-lo na porta, com uma rosa na mão e um vinho na outra.

“Foda-se!” pensou consigo, e pela milésima vez na vida, decidiu de jogar no penhasco chamado amor. Já tinha caído tantas vezes, sabia que o coração aguentaria mais uma se o paraquedas falhasse de novo.

Puxou-o pela mão, abriu o vinho e tirou a roupa, espalhando pelo chão não apenas as roupas, mas a imagem de mulher fatal que tantos achavam que ela era. Pra ele, não precisava segredos. Mesmo que quisesse, seu olhar a trairia.

Sorriu grande, disse “eu te amo” – (sem medo dessa vez) e voltou a beijá-lo.

SaiDaqui! 😉

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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