Desculpe-me. E eu te amo.
Lembro como se fosse hoje.
Acho que se fechar os olhos, ainda consigo ver nitidamente você na minha frente com aquela blusa levemente decotada, acompanhada de um largo primeiro sorriso (de muitos) e aquele abraço de como se já fossemos velhos amigos. Nem preciso me esforçar para lembrar o cheiro doce do seu perfume, ou o mentolado do seu hálito enquanto falava perto do meu ouvido coisas banais, no meio da pista de dança. A balada estava ensurdecedora, e ainda assim, eu só ouvia e via você: nem sei dizer se naquele dia o lugar estava abarrotado de gente como nas outras vezes que fui e você não estava lá.
Sua simpatia me surpreendeu e cativou de pronto. Seu jeito direto fez com que nossa afinidade crescesse rápido. Não demorou muito, fui convidado a conhecer sua casa. Você nunca foi de fazer jogo, não é mesmo? Sempre que quis algo, falou, ou simplesmente foi lá e fez. Esse sempre foi seu ponto forte. Mas para uma pessoa sistemática como eu, é também o ponto fraco.
Por uma vez tentei não pensar nisso: afinal, você me embriagava. Se algo me passava pela cabeça, era seu rosto, sua voz, seu corpo. E que belo corpo!
Toquei sua campainha com o coração quase na boca. O mundo parou por um segundo e te vi ali, escorada na porta com aquele mesmo sorriso bobo e olhar descompromissado, meio tímido, meio sem jeito. Pensei, “que se dane qualquer escultura grega ou romana, aquela garota ali, exatamente daquele jeito, isso sim é arte.”
Eu me apaixonei por você naquele instante.
Seu jeito levemente desleixado de deixar o cabelo cobrir parte do pescoço, somado ao decote aparente (quase sempre presente) atraíram meus olhos e despertavam minhas vontades mais íntimas. Seus shorts curtos, revelando coxas grossas e rabiscadas sempre te deram um tom meio arredio, meio rock and roll. Você nunca teve receio de parecer desleixada: entendeu cedo que sempre foi sexy por natureza. Seu estilo “foda-se” sempre te fez ainda mais sensual.
E a conversa, meu Deus! Como fluía nosso papo…era como se tivéssemos passado uma vida lado a lado (quem sabe não foi uma anterior, não é mesmo?). Eu não queria sair de perto de você nunca mais. Passaria uma vida encarando seus olhos, admirando seu sorriso. Sempre achei engraçado quando você, sempre tão decidida, ficava sem graça. O cheiro do seu cabelo, da sua pele, da sua casa. Eu precisava pertencer ali.
Às vezes (e me perdoe por isso) eu nem conseguia prestar atenção nas suas palavras, porque acabava hipnotizado pelo movimento da sua boca: a boca que eu queria tanto beijar.
Lembra que você me deu um filme pornô e alguns itens de sex shop de presente aquele dia? “Pra você se divertir quando estiver triste”, disse. Eu não sabia se ria ou se me apaixonava. Você não era nada comum, nada previsível. Sempre teve o controle da situação, e nunca pareceu se incomodar com isso: é seu natural. A garota mais estilosa e segura que eu já tinha conhecido na vida estava ali, na minha frente. E eu estava me apaixonando por ela.
Sem rodeios, você me puxou para o quarto. Deitei na cama e você me beijou. Tomou o controle, ficou por cima de mim e num numa velocidade quase torturante de prazer, me beijou de novo, olhando nos olhos. Era como se você já tivesse me despido, porque ali, eu fiquei nu. Nu para tudo que eu achei que era o “papel do homem” minha vida toda. Indefeso para sua confiança e certeza tão desprovida de pudor, sua vontade explícita de nós dois. Confesso que me senti indefeso por um minuto: não estava acostumado com essa falta de jogo, de enrolação. Mas seu toque era extasiante e tudo que eu queria era mais. Mais do seu beijo, do seu cheiro, da sua pele.
Você me fez sentir desejado, tarado, sem medo.
Saiba, garota, que você foi a melhor transa da minha vida. Cada penetração me deixava arrepiado. Todas as vezes em que transamos no banho, fizemos amor pela manhã ou fodemos madrugada adentro. Deitados, em pé, sentados. De lado, de costas, de quatro. Com você, eu aprendi a não ter vergonha de sentir prazer, de gemer mais alto, de romantizar o sexo, de sentir tesão. O melhor oral que já recebi, a melhor palmada que já dei. Entre suor e leves puxões de cabelo, uma pausa para beijos apaixonados e olhos nos olhos que quase faziam gozar antes do previsto. Você no meu colo era o paraíso ao alcance das mãos. Em pouco tempo, sua cama se tornou o melhor lugar do mundo. Não importava mais nada -“foda-se a vida lá fora”- eu só queria sentir seu corpo nu no meu.
Você tinha a mistura perfeita de amante dominadora e menina frágil. Sua voz doce pela manhã me acordando com café na cama era delicioso e contraditório quando comparada com a mulher decidida, sexy e tarada que estava comigo entre lençóis na noite anterior.
Você ia trabalhar e eu ficava ali no quarto vazio. Por várias vezes me belisquei, só pra ter certeza que não estava sonhando. Antes de partir, eu espalhava bilhetes românticos e sacanas pela casa, mal esperando a hora de sair correndo do trabalho e me afogar mais em você.
Todos os dias, que logo viraram semanas, e que logo viraria um mês. Minha paixão aumentava e suas defesas baixavam. Você me apresentou seus amigos, não tinha vergonha de demonstrar carinho em público. Era tudo tão natural, e ao mesmo tempo assustador. Eu mal sabia que aquela mulher também tinha planos de ser cuidada. De ser casada. De ser mãe. Falamos de futuro, de comprometimento.
E o que aconteceu?
Eu morri de medo. Eu pensei demais. As incertezas falaram mais alto. Tudo estava perfeito demais para ser verdade e com medo de que algo estragasse isso, eu estraguei sozinho.
Fiz o que todo homem covarde faz.
Eu fugi.
Do melhor sexo. Da risada fácil e gostosa. Do cheiro agradável da sua pele. Da conversa divertida pela madrugada. Do carinho no sofá. Do seu toque no meu corpo (e vice-e-versa). Eu tinha tudo. Eu perdi tudo.
Porque eu deixei tudo para trás? Acho que é o que tento responder todos os dias desde o minuto em que fui embora pra sempre.
Meu maior arrependimento é ter sido covarde com você.
Hoje, eu queria voltar no tempo e dar um soco na cara daquele rapaz inseguro. Olhar nos olhos dele e dizer “Não perca essa garota, ela é a mulher da sua vida.” Eu queria voltar, te pedir desculpas e te beijar até perder o fôlego. Queria sussurrar no seu ouvido que sempre te amei e que fui um idiota. Queria dizer que agora você é minha, e que eu sempre fui seu. Queria dizer que agora eu fico, e que nunca mais arredo o pé.
Esse texto é só pra dizer que te amo. E que ainda sonho com minha segunda chance.
30/03/2015
oinnnn que texto lindo!!
parabéns!! Você escreve super bem!
beijinhos
http://www.verdadeescrita.com