Dia de merda, ou não.
“Dia de merda!” – Era tudo que conseguia pensar enquanto voltava com calor no trem lotado, ao lado de um senhor com odor desagradável. O carro estava no conserto, o cachorro tinha destruído seu melhor tênis. O dinheiro que lhe deviam não foi pago no prazo previsto e a namorada havia ligado pra dizer que ainda ficaria presa à uma reunião por tempo indeterminado. Seus pés doíam pela escolha errada dos sapatos e o caminho até em casa era longo. Subiu as escadas quase que em ritmo de procissão, desejando apenas se jogar na cama até o dia seguinte.
Do corredor, pode avistar a porta aberta e um súbito medo lhe agravou os pensamentos: “Assaltado? Era só o que me faltava…”. Caminhou sorrateiramente até a porta de entrada, depois de alguns segundos hesitando sobre o que fazer: só queria saber se o cachorro estava bem (até esqueceu da raivinha pelo tênis perdido nessa hora). Silêncio ensurdecedor e escuridão tremenda vinda de dentro; cada vez mais só ouvia o tum tum tum que o próprio coração fazia.
A porta soltou um leve rangido que o paralisou por mais alguns segundos, e o desespero tomou conta quando o cachorro não veio recepciona-lo, como fazia todos os dias. Avistou uma chama fraca mais pro lado do quarto e só consegui pensar em calamidades enquanto uma luz se acendeu e vários rostos conhecidos gritaram um sonoro “PARABÉNS” em conjunto.
Depois de quase ter um ataque cardíaco, entendeu rapidamente o porquê de não ter recebido parabéns durante o dia: era tudo uma armação da namorada, que também fingira esquecer a data. Era um bolo de avelã (seu favorito), com uma vela divertida acesa e enfeitado com seus melhores amigos em volta, que sorriam e batiam palmas enquanto pequenas lágrimas de alegria escorriam pelo rosto do aniversariante.
Olhou em volta e só conseguiu sentir alegria. Agradeceu a todos pelo carinho e pela presença e encheu a alma de sorrisos largos. E foi assim que um dia de merda se tornou um dos melhores e inesquecíveis de sua vida.
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