Encharcada
Sou dessas que se encharca de memórias pra se sentir viva. Uso de nostalgia quase sempre pra sentir o coração encher de calor e fecho os olhos pra rever cenas que nunca vivi.
Gosto de brincar de conto de fadas, e acreditar que o príncipe vai chegar um dia. E nem faço questão de ser brega, num cavalo branco. Que venha a pé, traga sua garganta e grite na janela que me ama. Que se passe de louco e nem ligue para o que as pessoas pensam dele enquanto ele canta meio envergonhado as notas da minha música favorita, recém aprendidas no violão pra acompanhar.
Porque a vida vai ser difícil sim. Mas sempre terá espaço pra dançar no supermercado, correr pelo estacionamento e brincar de pega-pega na cama. Sempre haverá um momento simples e corriqueiro de fazer cosquinhas, ler juntos de pés entrelaçados ou ficar se olhando sem dizer nada enquanto o outro faz qualquer coisa normal. E os problemas todos serão transformados em planos. A dois.
Acredito que sempre haverá espaço pra banho de chuva. Pra dançar descalço e sem música. Pra ter vento no cabelo e estrada no horizonte. Pra cozinhar sua comida predileta e te mandar um link qualquer de uma música nova que me fez lembrar você.
E pra todos os outros detalhes idiotas que ninguém valorizou ainda. Encharca-me-ei de todos eles. Diariamente.
Trackbacks/Pingbacks