Eu menti

mat1_1012

 

Sabe o que é? Quando eu disse que te amava a ponto de te deixar ir embora, eu menti.

Menti que tudo ia ficar bem, pensando que quem ama de verdade, liberta. Mas eu repeti isso tantas vezes tentando convencer a mim mesma, que o coração entrou em choque e eu continuei esperando que você voltasse.

Deixei a porta entreaberta e peguei o drink mais forte que encontrei pela casa. Sentei no chão e coloquei nossa música pra tocar, na esperança que aquela deprê toda servisse apenas de inspiração para um texto ou dois, porque no fundo, cê também não conseguiu realmente ir embora e ia voltar correndo, com um girassol na mão e duas lágrimas no rosto. Que ia quebrar meu interfone de tanto tocar, subir oito degraus de escada porque o elevador demoraria tempo demais e você tinha pressa. Pressa pra entrar correndo, me pegar no colo e beijar bem forte, enquanto rodava feito cena de cinema. Na verdade, esse beijo teria riso, choro e viria acompanhado de promessas e juramentos de amor eterno.

Mas nossa história não teve final feliz. Na verdade, ela nem teve tempo de acontecer.  Você tinha pressa e eu precisava de um pouco mais de tempo.

A porta continuava ali, de moldura vazia sem você pra aparecer correndo e preencher o batente, meu copo, meu corpo e a vida inteira que projetei num futuro-quase-perfeito que já envolvia uma varanda, uma rede, um filho e dois cachorros. Outra bebida e o silêncio ensurdecedor do meu coração disparado à espera do que eu já sabia lá no fundo que não aconteceria.

E se eu bem te conheço, sei que você quase veio. Que, apesar de ter ataques de ímpetos e hesitações, seu signo tão pé no chão (que dizem por aí que não combina com o meu e eu tava louca de vontade pra provar que era todo mundo errado quanto à isso) fez você largar a chave do carro todas as vezes que o coração quase conseguiu falar mais alto que a razão.

Eu senti daqui seu medo (que também era meu medo) e tive medo de te ligar pra confessar que era tudo mentira: que sem você eu não seria completa, nem feliz e que muito menos, tudo ia ficar bem. Tive vergonha de dizer que minha felicidade tava sim atrelada a ti, e não quis te jogar esse peso todo do meu sorriso.

Chorei mais um pouco, peguei outra bebida e passei a chave na porta. Descobri que esse era o preço de fingir que sabia tanto falar de amor, quando na verdade, o amor era só um par de olhos. Verdes.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

compartilhe esse post

Trackbacks/Pingbacks

  1. Links da semana #127 | Blog OBorga - […] Eu menti – Sai Daqui […]

enviar comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.