Eu respeito as sardinhas

Eu respeito as sardinhas. Acho que elas fazem o melhor de si não reclamando da vida dentro daquela lata apertada. Uma por cima da outra, sem ar pra respirar, sem nada que possa ser feito. Pobres coitadas!

Porque é como eu me sinto ao pegar um ônibus lotado, DIARIAMENTE.

Esses dias passei por uma das piores experiências em ônibus da minha vida: saí do trabalho às 18h e fui esperar o ônibus. Ele normalmente demora até 10 minutos para passar, e chega semi-lotado. Nunca tem lugar para sentar, mas ainda dá pra entrar e ter um pouco de espaço e dignidade, ainda que em pé.

Dessa vez foi diferente.

Meia hora depois, meu ônibus chega. Com gente saindo pelo ladrão, cheio de pessoas mau humoradas e apertadas. O motô ajuda: “o próximo também está atrasado, vai demorar mais meia hora”.

Paciência pra que te quero ao conseguir entrar ali, na muvuca de gente xingante e brava. Entramos eu e mais umas cinco pessoas.

Pra ajudar, eu estava de mochila.

Pedi que um moço guardasse ela pra mim ali no vidro da frente do busão (o que ele fez resmungando, mas fez). Agradeci.

Próximo ponto, entram mais OITO pessoas. Sério, até agora não sei como conseguiram subir ali. Embasbaquei-me e pedi para o motorista que não parasse mais para passageiros subirem, porque a situação já estava crítica. Ele concordou. As pessoas à minha volta também.

 

Nesse momento eu já nem me preocupava mais em ter onde segurar, porque o calor humano e a ausência de espaço em si já estavam fazendo isso por mim. Quando me dei conta, estava em cima do degrau de um banco, quase sentada no colo de uma mulher e seu recém-nascido.

Pedi desculpas, ela muito simpática disse que eu podia ficar ali, sem problemas.

E lá fui eu: com cuidado pra não esmagar o pobre bebê com a bunda, fazendo malabarismo para ficar em pé por não ter onde me apoiar e pra ajudar, meu telefone toca. ÓBVIO que atendi e pedi que a pessoa ligasse depois.

Meu ponto estava chegando. Era quase hora de descer e eu ainda estava colada no primeiro banco da porta da frente. Ir até o fundo? Sem condições.

Peguei o dinheiro, pedi que uma pessoa entregasse-o para a cobradora e que virasse a roleta para mim, pois teria que descer pela frente.

E veio minha supresa: com toda a grosseria do mundo, ela me dá uma bronca do tamanho do universo por eu “querer” descer pela frente. Porque onde já se viu? Isso é errado! Tem que descer pela porta de trás do ônibus!

Respondi que o faria com todo prazer, se houvesse espaço. As pessoas por perto se indignaram e já começavam a se meter quando eu agradeci, peguei minha mochila, agradeci o motorista (que sorriu) e desci do ônibus.

Respirei fundo. E tive certeza: eu respeito as sardinhas.

Porque ó: HAJA PACIÊNCIA, VIU?!

 SaiDaqui!

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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1 comentário

  1. Esse seu texto me fez lembrar do blog que estou colaborando agora: http://comraiva.blogspot.com.br/

    Um dos motivos de tais situações ocorrerem decorrem, em grande parte dos casos, da falta de educação da população e falta de preparo dos funcionários das empresas de ônibus que são empregados de uma verdadeira máfia.

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  1. MEU VESTIDO PRETO - [...] Variedades – A gente fica no ônibus do mesmo jeito que sardinhas na lata.  [...]

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