Ironia de uma alma humanizada

Gostava de emanar ares de sobrenatural. Vivia dizendo aos quatro ventos que sentia, via e ouvia espíritos, anjos, entidades, ou o que fosse. Falava tanto disso que afastava as pessoas. Era um tal de “eu sei disso” e “eu sei daquilo” irritante como só ele sabia ser.

Nunca aceitou críticas, mesmo que construtivas. Não admitia que as pessoas não quisessem ouvir ou conversar sobre o que não se pode ver ou tocar. Ele era soberano na arte de entrar em contato com o divino. E adorava se vangloriar disso.

Funcionava para pegar algumas meninas facilmente impressionáveis e fazer alguns amigos interessados em ouvir sobre o que não conheciam. Mas logo se tornava chato, porque fazia daquele canal de contato seu único e interminável assunto.

Pior que isso, não sabia ser admirado em silêncio. Das pessoas que o amavam como era, sentia necessidade constante de ouvir elogios: tinha que ser reconhecido o tempo todo pelo tal dito esforço em tudo que conquistara até então. “Tudo” que se resumia em tão pouco para outras pessoas.

Foi amado uma vez, por uma menina eloquente, que dizia verdades em tons de brincadeira para que ele entendesse que ser bitolado não é legal. Tentava explicar que achava o assunto demasiado interessante, e que acreditava nele. Queria aprender muita coisa. Mas tudo tinha hora de ser discutido, mostrado. Que espiritualidade imposta, é alienação. Ofendido, fugiu sem dar satisfação. “Onde já se viu, menina tão nova achando que sabe mais que eu? Só porque a alma dela não está pronta” dizia ele.

Muitos anos se passaram, e ele passava cada vez menos tempo em contato com pessoas de carne e osso. Afirmava que seu espírito era superior demais para se deixar ser humano.

Desencarnou alguns anos depois, elevando-se novamente apenas para o estado de espírito, onde descobriu finalmente, que sua última tarefa divina teria sido conviver entre humanos e aprender suas maiores virtudes antes de evoluir. Só o faria quando entendesse realmente o significado de amar um humano. E que havia falhado. Seu egcentrismo havia falado alto demais.

SaiDaqui 😉

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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3 comentários

  1. Pode ser esquizofrenia.

  2. Hahahaa, acho que tenho pobreminha Piovezan! LOL – abobado =p

  3. Não você, o protagonista. 😛 Você não é do tipo que vê ou ouve coisas (tirando é claro as cantadas na rua). Ou é? O_o

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