Texto inspirado por ESSA MÚSICA LINDA E INCRÍVEL que descobri essa semana.
Conheci uma menina que sorria com os olhos. Ela tinha um jeito diferente, algo de intenso e delicado que se harmonizava a ponto de parar um furacão num estalar de dedos se ela assim quisesse.
Dona de uma beleza rara e intensa, que parecia vir de um plano além do físico pra brindar o olhar de quem se atrevia a encará-la. Aliás, encará-la era um constante exercício de auto-controle: ela tinha esse dom de te fazer apaixonar sem precisar abrir a boca.
Acho que a única mulher do mundo que ficava ainda mais sexy quando fazia careta e debochava da sua própria falta de tato na sedução. Só ela não entendia como era lindo apenas vê-la jorrar sorrisos por aí.
Eu bem me lembro como era mágico quando ela ria alto, baixava a cabeça e não se importava se o cabelo estivesse bagunçado ao dançar (até quando não existia música alguma), hipnotizando com curvas imperfeitas todo o ar que a rodeava, atraindo atenção de todos enquanto nem se dava ao trabalho de abrir os olhos.
E o cheiro? Meu Deus, como ela exalava liberdade e independência…Era encantador vê-la batalhando, feito guerreira iniciante sempre jogada em covas de leões, over and over and over, só porque ela já carregava em si a certeza do caminho único: vencer ou vencer. Era solitário e inspirador vê-la sendo ela mesma, sem ter pra onde fugir, orgulhosa e conformada com o que a vida trouxesse.
A parte “engraçada” é o jeito que ela parecia carregar o coração do lado de fora do corpo, fazendo questão de exibir orgulhosa em quantos cacos ele já havia sido quebrado. Era sua maneira de dizer pro mundo que amor não se mede, não se compara, não se repete. Que todo mundo se machuca invariavelmente, e que tudo bem amar de novo (e de novo, e de novo, e de novo, e de novo) depois disso. Que os cacos são aprendizagem e experiência. Que amor é a única coisa que quanto mais se doa, mais se tem.
Nunca a vi envergonhada de sentir ou demonstrar coisa alguma: como era fácil entender o que ela sentia, por Deus! Era tanta transparência que às vezes confundia quem estivesse acostumado com joguinhos ou camuflagens, chegava a ser engraçado de ver. Por incontáveis vezes, presenciei gente se aproveitando de tanto sentimento escancarado. Morri de raiva sempre e quando ela descobria que estava sendo usada e perdoou sem mágoa todas as vezes.
Ela era tanta cor em meio à multidão de tons de cinza que doía vê-la partir. Em todas as vezes vi julgarem seus atos, decisões, erros e acertos. Mas isso parecia doer mais em mim do que nela. E talvez esse era seu segredo: viver uma vida errante e liberta, porém muito bem vivida. Livre de amarras, de conceitos, de medos.
E em meio a tantos tropeços, só consegui enxergar que ela foi feliz, de um jeito que ninguém no mundo um dia entenderia: ela fez o que quis, sempre com aquele sorriso de girassol só dela estampado no rosto.