É engraçado como no fundo, eu sempre soube: não era você.
Mas a gente tenta se justificar pelos caminhos sinuosos da razão, encontrando explicações cada vez mais sem pé nem cabeça para continuar tentando algo que já nasceu furado. Particularmente (e com muita vergonha), admito ter pensado coisas absurdas como “o amor deve ser isso mesmo, eu que estou romantizando/querendo demais”, “relacionamentos são assim mesmo, é normal esfriar”, “talvez ninguém nunca me ame mais do que isso”, “será que eu encontro/mereço algo melhor?” ou ainda “está confortável assim: não está às mil maravilhas, mas tampouco está uma merda…vamos ver no que dá”.
E quanto mais o tempo passa, menos sentido a gente faz, pensando coisas ainda mais podres no buraco de pensamentos imaturos e sem nexo do mundo imaginário com possibilidades alternativas que criamos sempre na cabeça: “mas agora a gente tem uma história/plano”, “o que faremos com o apê/cachorro/filhos?”, “o que eu vou dizer para minha família/amigos?”, “estou velho para ficar solteiro(a)”, “dá muito trabalho conhecer alguém e começar tudo de novo”, e o pior deles, “e se a próxima pessoa for ainda pior que a atual?”
Errei. E errei bem feio ao me esquecer da primeira regra crucial para ser feliz: baste-se. Como sempre disse o divo Rupaul, “se você não é capaz de se amar, como raios será capaz de amar outro alguém?”
Quando a gente finalmente cai em si, entende como era tudo tão claro e como ainda assim, escolhemo-nos fazer de cegos e/ou burros o suficiente pra fingir não enxergar a verdade. Porque ela dói, quando entendida e aceita nua e crua: não era pra ser. Nunca foi.
Todos os pequenos detalhes tentaram me dizer que éramos opostos demais em tudo, e que por isso, felicidade nunca seria um caminho simples. Malditos Eduardo e Mônica, sempre nos fazendo pensar que pessoas tão diferentes podem dar tão certo. O que ninguém te conta é que esse é o tipo mais difícil e desgastante de relacionamento.
O mais bonito de se escrever sobre, confesso: esse lance de fogo e água ou tempestade e calmaria vende. E vende bem. É lindo ler e sonhar com o mundo perfeito se complementando em cores que fazem da vida arco-íris.
Na prática, o que acontece de verdade é que o dia a dia pesa e a rotina sufoca: a gente briga por tudo, da fragrância do sabonete ao jantar do final de semana. O mau humor de um contamina o ânimo do outro, o tesão de um é brochado pela sistematicidade do outro. Ele(a) não gosta dos seus melhores amigos, você não gosta de parte da família dele(a).
Não que ele(a) seja uma pessoa ruim: pelo contrário. Afinal, se vocês estão juntos é porque tem muita coisa boa ali, não é mesmo? Você só passa a pensar que talvez esse tipo de relação não seja o ideal para você. Inventa mundos paralelos, vive sensações e situações imaginárias incríveis, tornando qualquer outra pessoa mais parecida com sua personalidade mais atraente do que a que está ali do seu lado.
E você se sente mal. Esse pensamento, agora já não tão mais inocente, passa a ser persitente e corrosivo, te fazendo sentir a pior pessoa do mundo. Você desconta a decepção com você mesmo no esporte, no trabalho, na comida. Inventa razões pra não ser/estar presente. Se julga, se sabota, se afasta. Torce em segredo para que as coisas esfriem; para que magicamente um belo dia ambos acordem e decidam, de comum acordo, que é melhor cada um seguir seu caminho. Mas não é o que acontece, porque sempre tem um lado que gosta mais e consequentemente, sofre mais. Sabe, dói sim; dói pra caralho (mesmo sabendo que é o melhor caminho pra ambos).
Aí o tempo passa e você reaprende a se gostar: a vida volta a ser leve e você é todo seu, pra ser o que quiser. Isso ilumina, irradia, atrai. E atrai agora o “tipo certo” de gente pra você, aquele que pensa igual, que gosta das mesmas coisas, que busca o mesmo caminho. O brilho extra no seu sol que já brilha alto, a gargalhada descontrolada no seu riso que sempre foi largo. O agente do caos da confusão que já te habita, o fogo pra sua gasolina, que tudo que sempre quis fazer foi apenas queimar.