Obrigada por ter ido embora
Escuto no silêncio que sua voz sempre deixa de dizer muito mais do que o coração teria dito se a boca ou o orgulho tivessem permitido pegar o telefone e discar aqueles números.
Esses mesmos números tão conhecidos pela memória, a ponto dos dedos traírem e serem ainda mais rápidos sempre que precisava utilizá-los: um movimento quase automático que eu sempre tinha que me lembrar de esquecer.
Era pra acalmar a inquietude da alma que fingia já ter ouvido aquelas palavras que ainda não tinham sido ditas. Ou a vontade de gritar e quebrar tudo que fazia calar e sorrir amarelo.
Olhar para o mundo e realmente desejar que aquele fosse um bom dia ainda levou algum tempo. E paciência. O mesmo tempo que o coração levou para tornar aquela história que tivemos num filme mudo; branco e preto, esquecido no fundo da memória e sem final feliz.
E foi exatamente nesse dia que eu desejei que você fosse feliz longe de mim, pela primeira vez depois de anos. Porque é somente quando o tempo permite que as lembranças se apagam e os amores se esvaem.
Hoje o coração carrega uma placa escrita “há vaga” – e a culpa é sua, por tanto ter me decepcionado. Repetida e constantemente. O que restou? Apenas obrigada. Por ter ido embora.
SaiDaqui!