Quebrar os pratos
Vivia da arte do silêncio que dói, fazia da indiferença sempre soberana e imperativa. Dar de ombros virou moda em sua vida, e não se importar ficou comum. Mas não era pra ser assim.
Ela não era assim. Sabia, tinha nojo. Dessa gente que não briga, não luta, não xinga, não discorda. Não se acorda, só concorda.
Cansou do marasmo e da poesia barata, sem rima, sem gosto, sem graça. Pegou os acordes todos e jogou no lixo. Fazer uma música sem ritmo pra dançar sem sapatos passou a ser seu maior objetivo.
Quebrou os pratos, só pelo prazer que o barulho e a bagunça lhe causavam na alma. Sentia-se sempre viva quando se jogava do penhasco nos sonhos estranhos que tinha.
Beijou na boca quem mais odiava, só pra tentar entender a linha tênue do amor e do ódio. Contrariou os pais, apenas para ser lembrada.
Cansou de tudo pronto, foi plantar sua horta. Jogou os meios amores no lixo. Preferiu ficar sem nenhum do que ter várias partes.
Deixou espaço pra ter um inteiro. Cabia até uma penteadeira (ok, essa foi péssima).
Trocou o salto alto. A cidade. O namorado.
Deixou as pessoas mal encaradas pra trás. Mexeu com um moço bonito na rua, queimou toda a janta que tinha planejado para os amigos. Saltou de pára-quedas, fez tricot com a avó.
Xingou o chefe, pediu desculpas ao amigo ofendido. Cuidou de si e se importou menos com os outros.
Passou a fazer o que gostava, o que lhe dava vontade. Passou a se amar.
E daí em diante, foi amada por como nunca havia imaginado que alguém conseguiria. Encontrou amor na arte de não mais desapegar-se das pessoas, e sim das coisas.
04/07/2011
Primeira característica marcante que faz valer a pena qualquer caminhada: pessoas que brigam pelo que querem. O resto a gente tolera, aceita ou tenta mudar com calma, mas se não tiver garra e lutar, não tem jeito.
04/07/2011
Novamente, ótimo post. Quem dera se eu conseguisse fazer uma mudança assim na minha vida… mas o importante é nunca deixar de tentar né ^^