Roupão cor de rosa
Era uma noite comum de terça-feira. Voltou pra casa de metrô, como sempre o fizera.
Subiu as escadas, descalçou os sapatos e colocou-os ao lado da porta, como religiosamente fazia ao chegar em casa. Deu cinco minutos de atenção para o gato, que indiferente como só ele sabia ser, saiu de perto e foi deitar num canto escondido qualquer.
Colocou a água para ferver e sua música favorita pra tocar, infinitamente no repeat pela milésima vez – “os vizinhos já devem estar cansados de ouvir essa música”, pensou por um instante.
Despiu-se por completo enquanto temperava a água de sua banheira: nem tão morna, nem tão quente; o ponto perfeito pra sentir-se inebriada enquanto lavava o corpo, na tentativa de limpar a alma e a mente inquietas.
A música estava tão alta que só ouviu a campainha tocar quando já era a terceira vez que o faziam. Levantou às pressas, saiu pingando água pela casa toda, enrolada num roupão rosa, cheio de coelhos desenhados, todo surrado, desses que fazem um homem pensar duas vezes se aquela é mesmo uma mulher madura e decidida.
“Quem é?”. Silêncio.
Abriu a porta e deu de cara com um homem que nunca havia visto antes. Em tempo de ainda cobrir o mamilo esquerdo que ainda gotejava água morna, e todo eriçado, reparou apenas que ele tinha um cheiro cítrico meio amadeirado embriagante.
“Posso ajudá-lo?”. Silêncio.
E ele, que até então não tinha se dado ao trabalho de encará-la, levantou a cabeça, revelando a barba por fazer, dois enormes olhos castanhos, um largo e perfeito sorriso e cabelos negros, levemente bagunçados e semi-escondidos dentro de um boné velho qualquer.Vestia jeans, chinelo e uma camiseta velha, levemente suja.
– Sou seu novo vizinho. Mudei pra cá hoje, durante o dia. Ainda não tive tempo de instalar o chuveiro e sei que isso é muito estranho, mas gostaria muito de tomar um banho. Seria muita inconveniência de minha parte?
Ainda arrebatada por pensamentos completamente pecaminosos e cheia de desejo daquele corpo em cima do seu, tentou agir naturalmente, respondendo que não seria incômodo algum, que ela mesma tinha acabado de sair de lá.
Entraram ambos na sala, com aquele típico constrangimento que assola recém conhecidos que visivelmente se desejam, e algumas poucas palavras e conversas depois, acharam melhor acabar logo com aquilo tudo.
Ele entrou no banheiro, e ela constrangida avisou que a porta não fechava direito, sentindo-se envergonhar enquanto explicava que não tinha consertado porque morava sozinha e….ufa, ainda bem que ele riu e disse que não tinha problema.
Fez sua caneca de chá de hortelã, e deixou uma pronta pra quando ele saísse do banho, por via das dúvidas. Não queria parecer uma anfitriã indelicada.
Colocou seu shorts de ficar em casa e uma blusinha qualquer e sentou no sofá, tomando seu chá e assistindo um seriado qualquer na TV. Segurava-se a todo momento para não olhar em direção àquela porta entreaberta, sentindo o desejo quase escorrer por entre as pernas.
Ele acabou o banho, recusou educadamente o chá não cansou de agradecê-la e parecia não querer mais incomodá-la. Já ia se despedindo quando um destino muito levado fez com que o beijo de despedida roçasse levemente os lábios dela no dele, bem no cantinho da boca.
Um frio na espinha depois, lá estavam de olhos estalados e de rosto tão perto um do outro, pensando o que fazer daquela situação. E ao contrário do que o roupão que ela abrira a porta indicava, era mulher decidida e sabia bem o que queria: aproveitou a oportunidade e puxou-o pra cima de si, ali mesmo no sofá.
Beijou-o longa e intensamente, alternando entre carícias leves e mãos bobas com vontade de sexo.
Permaneceram ali, agarrados em preliminares intermináveis por longas duas horas, e enquanto ela já gozara duas vezes, ele insistia em segurar ainda mais. Por fim, despiu-a finalmente por completo e carregou-a pra cama.
Penetrou lentamente, sentindo-a contrair e gemer ofegante, já transpirando por todos os poros de seu corpo e escorrendo na cama.
Por mais meia hora, transaram como se aquela fosse a primeira e última de suas vidas: tinha intensidade, curiosidade, vontade e ausência de culpa. Tinha libido pura, desejo carnal e a forma mais simples de se querer sexo. Tinha tesão; não tinha pudor.
Gemeram, transpiraram, se arranharam e por fim, gozaram juntos.
Ele, num gemido forte, ela, num sussurro leve. Entreolharam-se, sorriram.
Vestiram-se, agradeceram-se. Tomaram o chá (agora gelado) e não contente, ela despediu-se dele com um “pode voltar amanhã, meu chuveiro está à sua disposição” e uma piscadela.
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