Sobre amores inventados

Havia o visto apenas uma vez, e por pouquíssimo tempo. Trocaram algumas palavras, tiveram algumas conversas superficiais, mas sentiram o cheiro de afinidade no ar.

Em pouco tempo se adoraram.

Riam das mesmas coisas, gostavam de falar sobre as mesmas obcenidades. Ele a admirava por completo: como mulher, profissional, dama na mesa e puta na cama. Vivia babando nas coisas que ela escrevia. Nos amores que ela inventava pra eles.

Ele sempre fingia que era pra ele que ela escrevia. Ela gostava quando ele elogiava os textos mais apaixonados que sua imaginação fértil vomitava em forma de gritos e palavras desesperadas por amor de verdade.  Afinal, atrás daquela máscara de cafajeste imprestável, habitava um ser humano apaixonante.

Mas ele tinha medo de mostrá-lo. Odiava quando alguém percebia que no fundo, ele tinha um coração. A não ser com ela. Sempre que conversavam, não conseguia manter a pose. Voltava a ser adolescente e falava coisas que na maioria das vezes se arrependia depois, de tão sinceras.

Admitia sem pudor que quando fechava os olhos, era o perfume doce e apaixonante dela que sentia. E que se apertasse mais um pouco os olhos, quase conseguia tocá-la, como fazia quase sempre em seus sonhos.

Morria de medo de amá-la, e por isso, vivia lutando contra esse sentimento. Moravam longe, e por isso raramente se viam. Nenhum dos dois nega que viviam se preparando e esperando os momentos de encontro.

Diziam tudo que precisavam num abraço apertado, num sorriso sem jeito no canto da boca, de cabeça baixa. Faziam piada, riam à beça, e quase choravam ao despedir-se.

Eram apaixonados um pelo outro, sem nunca ter dado um beijo na boca sequer. E nunca precisaram dizer-se assim: Sabiam decifrar-se nos olhares.

Viviam de verdade esse amor inventado. Por ambos.

****

Esses dias fiz uma enquete, sobre ser possível se apaixonar por alguém apenas pelo cheiro, pelo toque, pelo olhar ou pelo beijo que fosse. Achei que ia ser crucificada, taxada de idiota. Surpreendentemente, a resposta foi 100% positiva. Desde então, queria criar um conto baseado nessa pesquisa, e aí está 😉

O que achou? Compartilhe sua história, sua opinião. Acha impossível, ou amores assim podem surgir mesmo? Agora SaiDaqui!

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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9 comentários

  1. Só quem já teve amor à distância (e muita, por sinal) sabe como é. Retratou bem, é por aí que a gente se sente. Bobo, adolescente de novo, querendo ser inconsequente e largar tudo atrás de quem se ama. Amores inventados ou não, parecem mais fortes que a própria vida. E antes que eu viaje filosofando aqui, digo logo que adorei. Posta mais histórias, a galera vai gostar bastante! 😉

  2. Impressionante a sua forma de escrever e conseguir criar um conto através de uma enquete baseada no assunto.

    Mais do que um conto, uma poesia que agrada aos olhos e atiça a imaginação.

    Parabéns, Mandinha.

  3. Aieee, achei lindo! Se já senti algo assim, me esqueci (hahaha, é que já faz muuuuito tempo que tô na estrada! XD) mas tb acho que é possível, sim!

  4. *_*

    Sem palavras… Li, ri e senti dor no peito…

    Fantástico, como tudo o que vc faz…

    Beijos saudosos…

  5. Pra quem não tem medo de viver, qualquer hora é hora de se apaixonar. Mesmo a distância, é possível encontrar alguém que lhe complete. Tenho um amigo que já está casado a uns dois anos, com uma pessoa que ele conheceu pela internet. Depois de muito tempo, resolveram se encontrar, e a partir daí não se separaram mais.
    Amor é muito mais do que apenas beijos e sexo, é relacionamento, amizade, carinho, atenção, e “otras cositas más…”

  6. Que coisa mais linda…. ai ai já tive uma paixonite assim… ? Adorei dona Amanda.

  7. Quem nunca sentiu isso… que não se identificou com uma linha sequer, mente!
    Como sempre FODA, Amanda! =*

  8. Incrivel como essa guria consegue expressar em palavras muito daquilo que levamos anos pra classificar, se é que amores e paixões tem alguma classificação.
    Só sei que sou fãzassa de tudo q ela escreve!

    clap clap clap!

    Perfeito texto catarrenta!

  9. Vivo este “problema” agora. Amor à distância, poucos encontros, muitos sonhos e ilusões. O problema é quando acaba…. Como todo amor a distância ou não, deixa um vazio, uma sensação de perda de uma parte de você que mesmo à distância reconfortava.

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