Foi medo.
Passei a vida toda procurando quem me tratasse bem e não tivesse vergonha de gostar. Idealizei tanto e sonhei cada mínimo detalhe por tanto tempo que, quando encontrei, não quis acreditar.
Paralisei na ideia de um definitivo. Fugi na mínima chance de sequer pensar em não dar certo. Fiquei repetindo pra mim mesma que era melhor assim, que não era pra ser. Deixei a auto sabotagem falar mais alto e me convenci que não era hora: a jornada de redescoberta de ambos teria que ser solitária.
E foi.
Engraçado que, mesmo ambos pingando de relacionamento em relacionamento, se jogando de cabeça e tentando rebolar pra fazer dar certo, ninguém nunca foi suficiente. Se bem te conheço, você também chegou num certo ponto de ter certeza que o problema era você e que seu destino era ficar sozinho.
A solidão mais forte sempre foi a de quando tem gente errada do nosso lado, né?
Hoje, sei que aquela decisão de quase uma década atrás foi pura imaturidade. Talvez despreparo. Falta de coragem seria o termo mais adequado, acho.
E o mais engraçado é que não me arrependo, sabia?
Explico: foi divisor de águas na minha vida. Conhecer algo palpável e saber que existe sim aquele parâmetro que a gente cria como ideal definitivamente eleva os padrões.
Em partes, foi graças à você que não aceitei menos do que eu sempre achei que merecesse e nunca me dei por satisfeita com mais ou menos. Eu tive uma jornada incrível de crescimento e descoberta até aqui e sei que você passou pelo mesmo processo de criar amor próprio.
Confesso: umas quantas vezes te procurei pelas redes sociais e senti um misto de alegria por te ver bem e tristeza por não ser comigo.
“Não era pra ser” e “foi melhor assim”, eu vivia repetindo. E a vida seguia.
Mas o mundo dá voltas.
E numa delas você reapareceu, despretensiosamente casual e estranhamente íntimo, como se não nos falássemos há apenas alguns dias.
E foi então, ao ouvir tua risada, quase 10 anos depois, queo medo se foi por completo.
As borboletas voltaram, e o senso analítico que sempre tenta me dominar deu um nó na garganta ao lembrar que no fundo, você sempre foi meu safe place.
Aquele “e se?” guardado com carinho e com uma pontinha dolorosa de certeza que teríamos dado muito certo.
Tomei coragem. Falei tudo.
Do meu jeito apressado, afobado, direto e sem filtro.
Ouvi. Toda sua versão dessa mesma história e tudo de amor e dor que nela continha meu nome.
Então, e só então, a verdade nua pôde brilhar e se deixar ser. Sem rodeios. Sem desculpas. Sem floreios. Sem culpas.
Na pura reciprocidade do querer bem e vulnerabilidade elevada à milésima potência que a tal certeza absoluta que tanto falam por aí se provou existir.