<Sugestão de música para esse texto é ESSA AQUI.>
Talvez nunca sejamos nada além de uma gostosa lembrança que insiste em morar no fundo da mente e revisitar o lado quentinho do coração de tempos em tempos, quando a vida ficar mais difícil. O problema é que eu tento me convencer todos os dias que tudo bem se for assim, e, em oito anos e meio, nunca deu certo.
É fato que talvez nunca tenhamos coragem de desprender-mo-nos do passado e dos medos que sempre cegaram o que chamamos imprudentemente (ou não) de amor e que nossa janela nunca mais se abra novamente.
Também é fato que talvez nunca nos encontremos em condições normais de temperatura e pressão pra dizer “agora vai” olhando nos olhos um do outro, e que daqui pra sempre as circunstâncias insistam em continuar a ser adversas e complexas demais para tal.
E, eu confesso, talvez do meu lado exista um enorme medo da certeza que eu sinto do quanto daríamos certo e de que nossas guardas baixariam-se imediatamente ao tentar um “nós”. Logo eu, tão dona de mim e comedora de corações no café da manhã, com medo de sentir e me jogar com alguém pela simples mínima possibilidade de uma rejeição. Você bem sabe, já não lido bem com “nãos”; mas nunca estaria preparada para um seu.
Mas tem coisas que a explicação lógica descarta sempre e dá um jeito de te reviver em mim: tipo quando eu fico pra baixo e é só com você que tenho vontade de conversar. Ou a naturalidade que eu sinto em me abrir e me expressar, sem medo de julgamentos ou repreensões imediatas.
Pode ser ainda a lembrança do encaixe no seu abraço e o único pedaço de parte boa que eu insisto em recordar daqueles dias sombrios da minha alma. A ânsia diária de te olhar nos olhos e não precisar dizer nada só por que seu braço se abria de maneira instantânea pra eu entrar nele.
Ou a maneira com que você me fez sentir amada e importante, dizendo obviedades que até então eu não sabia que eram tão necessárias e importantes num gostar a dois. Talvez por que você tenha me “estragado” daí em diante, fazendo-me exigente, dona de mim e de um querer mais por merecimento.
Também pode ser a diversão na naturalidade dos gostos, sempre tão coincidentemente (ou não) parecidos mesmo quando os inimigos tempo e distância insistiram em fazer parte. Ainda existe a possibilidade que seja essa mesma vontade de que um dia exista reciprocidade no duas partes de um relacionamento amoroso, a ânsia velada de também ser cuidado e não mais apenas cuidar.
Que seja ainda o fio vermelho invisível que nos une e a gente finge há anos não reconhecer. Ou que seja apenas amor. Desses tranquilos que Cazuza teve a audácia de cantar e que eu sempre acreditei que um dia encontraria.