Você está gorda!

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“Você está gorda”.

A frase me perfurou o peito de um jeito completamente inesperado, vindo de alguém que eu jamais dei tal intimidade e o pior: na frente de outras pessoas.

A priori, sem saber onde enfiar a cara e apenas desejando sumir dali o mais rápido possível, senti-me inferiorizada, humilhada e triste. Mas, em um reflexo de sanidade e dignidade, dei-me ao respeito de responder o que sentia:

“A senhora me perdoe, mas eu tenho espelho e balança em minha casa…”

“Não parece que tem, não” – disse ela, interrompendo-me os pensamentos.

Respirei fundo e continuei:

“…além de 31 anos com problemas de autoaceitação graças à pessoas como você, que se acham no direito de dizer o que bem entendem,  sem se importar com como isso me faz sentir. Pior ainda: que fazem em nome do que chamam de amor, para o meu bem – e que no fundo, fazem exatamente o contrário.

Não que eu lhe deva alguma satisfação, mas tenho problemas muito maiores em minha vida, outras prioridades no momento, e sim, meu corpo reflete isso desde sempre.

Então, da próxima vez que você tiver uma opinião sobre meu corpo e não for solicitada, prefiro que guarde para si: não precisa dizer nem pra mim, nem para os outros em minhas costas. Obrigada.”

Silêncio constrangedor, desculpa esfarrapada, despedida sem jeito; e foi assim que mais algo dentro de mim se quebrou. Aquela confiança remendada e tímida, agora mais manca que nunca. O mais triste é admitir que a culpa é minha. Que eu sou responsável por deixar isso me afetar tanto, mas nem sempre a gente consegue se blindar, não é mesmo? Chama-se ser humana.

Não me entendam mal, meu discurso foi lindo. Tenho orgulho da coragem em dizê-lo. Mas nada – eu repito, NADA – faz um “você está gorda” (ou qualquer outra frase que ofenda alguém bem onde o calo aperta) voltar atrás.

E há mais de mês cá estou, remoendo, desgostosa, chateada e ofendida comigo mesma. Decidi então escrever sobre, numa tentativa meio desesperada de tirar isso de mim. Que eu seja gorda, mas ao menos uma gorda inspirada, não é mesmo?

¯\_(ツ)_/¯

PS: que isso também nos sirva como lembrança de que todo mundo tem suas batalhas internas e que se o que tivermos a dizer vai apenas ofender sem ser construtivo, melhor guardar nossa opinião para nós mesmos.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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