Você me fode (o juízo)

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Eu sempre achei o conceito de felicidade um bagulho bem abstrato, mas descobri recentemente que ele tem olhos castanhos. E confesso, tampouco teria notado seu sorriso se não fosse um acaso do destino qualquer me batendo à porta no timming perfeito. Não porque você não seja notável, mas porque meus olhos estavam fechados.

É que nessa altura da vida poucas coisas me surpreendem e pouquíssimas pessoas ainda detém a capacidade de me incendiar, mas com você, também confesso,  senti faísca querendo ser transformada em fogo desde o primeiro abraço.

“Acalme-se”. Era tudo que conseguia pensar enquanto sentia calafrios de primeiro encontro, disfarçado por mim mesma de só mais uma cerveja informal qualquer pra tentar enganar o próprio coração e convencê-lo que era cilada sequer pensar em sentir algo por alguém agora.

“Invente uma desculpa e vá embora enquanto ainda dá tempo”. Juro, meu cérebro tentou te sabotar inúmeras vezes aquela noite. Por outro lado, te ver falar com tanta alma do que gosta, do que sente quando ninguém vê e do que já passou, fez ali, naquele exato momento, o desejo transcender o plano físico.

“Fodeu”. Você deu uma desculpa qualquer, sentou mais perto de mim e eu me deixei levar pelo cheiro da tua pele, que vinha rapidamente de encontro com a minha. Talvez aos olhos de terceiros, nosso primeiro beijo tenha durado apenas alguns segundos, mas te garanto que na minha memória, revivo-o em câmera lenta todos os dias.

Teve toque delicado e frio dos seus lábios nos meus, com direito a sabor de cerveja e intensidade de quem sabe que não deveria estar fazendo aquilo, mas não pode mais segurar. Teve você me olhando e sorrindo num segundo em que, juro, o (meu) mundo parou.

Teve interrupção. Risada. Confissão. Conversa aleatória. Mais cerveja. Mais olhares e beijos de taquicardia. Mais risada. Teve pagar a conta, prometer honestidade e tentar não complicar muito as coisas, como se fazê-lo fosse a coisa mais fácil do mundo.

Desculpe se eu não pude resistir ao seu olhar que me despia com os olhos. É que tenho um fraco por tudo que o silêncio costuma dizer quando faltam palavras. Há muito eu não sentia o coração disparar assim, num misto de vontade e nervosismo de primeira vez. E puta que pariu, como eu gostei de te deixar sem fala.

Seu sorriso dissimulado destoou e combinou completamente com o jeito que a mão passeava no meu corpo. Começou num toque leve, despretensioso e arrepiante, seguido em breve da pegada forte de quem sabe o que quer, e quer agora. Ali eu me senti desejada e segura, nua de corpo e alma.

Fechei os olhos e te deixei conduzir o ritmo do sexo. Como num plot bem escrito, o começo foi lento e autoexplicativo com sua boa dose de  toques, beijos e olhares que me transcenderam lentamente ao ritmo acelerado e intenso que marca a pele, escorre suor e verbaliza a fala. E então teve ali um momento específico que me fez perder as amarras e me entregar ao gozo: quando tuas mãos suadas se atracaram na minha cintura e seu olhar não conseguiu mais desviar do meu.

Gozei pelo conjunto da obra. Quis mais. Tomei controle, gozamos juntos. Eu soube, no gosto do seu suor, que você seria o desgraçamento mental mais gostoso de viver dos últimos tempos. E foi ali, naquela cama suada depois de ouvir um “puta que pariu, como você é gostosa” no tom mais natural do mundo em que eu apertei o foda-se.

Ainda assim, a transa mais gostosa que tivemos na noite aconteceu antes de tudo isso: foi no exato momento em que seu sorriso fodeu meu juízo. I felt alive. Thanks for that, no matter what.

autor: Amanda Armelin

Bocuda, nerd, tatuada. Cervejeira de carteirinha e louca por cachorros (principalmente bulldogs). Além do sorriso no rosto, mantém paixão absoluta por bacon e sexo.

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